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Síxpavoi

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Aíxpavoi: da dupla visão ao discernimbnto 347<br />

unificante, herói, iniciado, semi-deus, correspondente ao ideal homérico-jónio<br />

da realização das forças vitais e das energias cosmológicas<br />

na mónada humana.<br />

Porém, uma análise da hermenêutica recente torna manifesto<br />

que o pretendido contraste entre Parménides e Heraclito corresponderia<br />

a uma crítica daquele à concepção do fluir universal e da filosofia<br />

do devir, que se julgaria determinante no filósofo de Efeso 129 .<br />

Só os «imortais, mortais e os mortais, imortais» poderiam ter<br />

induzido a tal concepção da antropologia heracliteana que estaria<br />

a ser visada pelos Sbtpavot de Parménides 130 .<br />

Entre a concepção elemental da alma e do corpo em Heraclito,<br />

a sua duplicidade vigilante e onírica, imortal e mortal, invisível<br />

e: visível e a concepção dos Síxpavot nota-se uma diferença de<br />

linhagem de referenciação filosófica e mesmo de sabedoria mítica e<br />

iniciática 131 . O contraste da tradição jónia com a tradição pitagórica<br />

exigiria um estudo das origens asiânicas e até orientais de concepções<br />

míticas e sóficas primitivas 132 . No entanto, mesmo sem a explicitação<br />

desses dados acerca da etiologia destas linhagens, o seu<br />

contraste reconhecido na literatura clássica da tragédia por Nietzsche,<br />

de um modo exagerado, como o espírito apolíneo e o espírito<br />

dionisíaco, será também evidente no confronto entre a tendência<br />

exemplarista e identificadora do homem com o herói, com a alma<br />

ou com um elemento ou princípio fundamental da realidade e,<br />

por outro lado, a tendência analítica, gnóstica e discriminativa do<br />

homem de entre uma multiplicidade de formas possíveis de números<br />

e de ritmos em relação aos quais esse mesmo homem dividido<br />

aspira uma salvação 133 . A comparação das duas linhas de força da<br />

antropologia grega arcaica dá uma diversa interpretação à morte<br />

e nela se pode ver com maior clareza como a tendência pitagórico-<br />

-parmenidiana perspectiva o mortal como face da vida, como<br />

sua confusa realização, e não como outro estado ou alteridade.<br />

1 2 9<br />

Quanto à concepção do íov parmenidiano por oposição ao devir, cf. M. UNTER-<br />

STEINER, Parmenide, cap. Ill, pp. Cil e segs..<br />

1 3 0<br />

Cf. HERACLITO, frag. 62 (D. K., t. I, p. 164): «á&áva-rat •Í}vrJToí, .&V7)TOÍ<br />

àSávaxoi, ÇCÚVTEÇ TÒV ÉXEÍVGÍV Sáva-rov, TÒV SÈ èxsívwv Btov -REÍHIEÚTEÇ.»<br />

1 3 1<br />

Cf. HERACLITO, frags. 76, 115, etc.<br />

1 3 2<br />

Cf. M. L. WEST, Early Greek Philosophy and the Orient, pp. Ill e segs.<br />

1 3 3<br />

Cf. NIETZSCHE, (Die Geburt der Tragôdie) quando se refere ao dualismo entre<br />

o espírito dionisíaco e apolínio. Veja-se o estudo de E. R. DODDS, The Greeks and. the<br />

Irrational, London, Cambridge Univ. Press, 1951. Quanto ao tema do homem dividido<br />

muito presente no pensamento plotiniano, cf. P. RICOEUR, Finitude et Culpabilité, t. II:<br />

La symbolique du mal, Paris, Aubier-Montaigne, 1960, pp. 261 e segs..

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