328 DIDASKAI.iA decide: «( ..) monstres à deux têtes.» — Em ambos os casos a convicção da monstruosidade física e moral 65 . A tradução de Burnet e outras idênticas por «duas faces» supõe uma concepção bi-polar que lembra toda a preponderância do tema dos contrários no fisicalismo dos jónios e, sobretudo, relaciona os <strong>Síxpavoi</strong> de Parménides com os á[i.
Aíxpocvoi: DA DUPLA VISÃO AO DISCERNIMENTO 329 Mais raras, mas também utilizadas, as expressões de bi-céfalo e de bi-frôntico para traduzirem Síxpavoç supõem já não uma referência predominante a xépaç ou a xápa nem a 7rpóacú7tov ou sequer a (JÍ-TCOTCOV, mas assentam na referência à «cabeça» no sentido de duas partes suas constitutivas, sobretudo se se atender ao sentido de xsçaXyj na expressão êyxéçaXoç, cujo significado preponderante é sensível no neologismo «bi-céfalo». Bi-frôntico remete ao latim frons como frente, fronte, testa e pode querer significar uma dupla bossa ou dupla testa, o que ainda remete a uma compreensão das partes constitutivas da própria cabeça, às várias massas encefálicas, aos vários cérebros primitivos ou às várias bossas e hemisférios cerebrais 69 . Em todos estes agrupamentos das traduções existe uma intenção esquemática que força agora os contrastes de acepções que na maior parte dos casos aparecem diluídas e irreflectidamente aceites com uma certa margem de flutuação e ambiguidade pela maioria dos tradutores de <strong>Síxpavoi</strong>. No entanto, a investigação das etimologias e das variantes de tradução permitem uma atenção especial à hermenêutica que de um ou de outro modo se encontra implícita a propósito dos Síxpavot. E a questão não é tanto a de optar por uma das traduções acima referidas, nem a de propor nova tradução, mas antes disso elucidar as interpretações que se desenvolvem num entendimento específico do termo Síxpavoç, mesmo quando por vezes traduzido da mesma maneira, por autores diversos, que diferentemente dão sentido a esse termo. E, afinal, que quereria dizer Parménides com <strong>Síxpavoi</strong>? Seriam esses vultos como forquilhas, com chifres, ou esses monstros com cabeça além da sua? Seriam os mortais de duas faces que olham em dois sentidos, sempre dúplices, ou seres bi-cerebrais, de dois pensamentos, de duas vontades, de duas razões? E, o que é mais importante, terão forçosamente os <strong>Síxpavoi</strong> o sentido depreciativo, negativo, com que parece de toda a evidência 6 9 Lembrem-se os antecedentes da teoria frenológica, do tema dos cérebros primitivos na teoria evolucionista darwiniana e até os antecedentes do interesse médico pelo tema da xeçaX^ como por exemplo: «Ilepl Ttõv èv xeçaXf) TpcojmTÜv» atribuído a Hipócrates (HIPÓCRATES, Works, vol. III, Loeb Cias. Libr., ed. por E. T. Withington, London/Cambridge (Mass.), Heinemann/Harvard Univ. Press, 1968). Com efeito, tanto no Corpus Hippocraticum como em Galeno já se encontram referências às várias partes do cérebro como diversas cabeças-bossas primitivas.