Síxpavoi
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Aíxpocvoi: DA DUPLA VISÃO AO DISCERNIMENTO 341<br />
como manifesta a própria infinitude, não tanto concebida pela multiplicação<br />
sucessiva de si por si própria, na estabilidade de um<br />
processo de carácter potencial, tipificado pela quadratura do círculo,<br />
mas antes em mui primordial acepção. A díade não é o mesmo<br />
quadro ou o plano de identidade em que, como Hegel bem o<br />
reconheceu, o Ser e o Nada se poderiam dizer o mesmo, não representa<br />
a indiferença do Todo em relação ao somatório das suas<br />
partes, nem sequer a ambiguidade de uma infinita proliferação<br />
serial . Não sendo a dualidade total nem a duplicidade indefinida,<br />
106<br />
o dois representa o espaço de diferenciação ontológica e lógica radical e a<br />
infinitude em si mesma, ou seja, como sempre diferente .<br />
107<br />
A impossibilidade de um dizer unívoco acerca dessa díade, que<br />
caracteriza os Sí-xpavot,, faz compreender bem como o que eles<br />
afirmam terá de implicar que o ser e o não-ser sejam e não sejam<br />
ao mesmo tempo, sem que isso possa, de alguma maneira, constituir<br />
contradição. Porque, com efeito, na díade não existem as condições<br />
de simultaneidade e identidade que caracterizam o plano de contradição<br />
c ela também não é o plano de unidade, conciliador e<br />
supra-contradição, em que sempre o um se diz do outro porque<br />
ambos de um terceiro, ou em que o dois e o três se dizem de<br />
uma dialéctica que em si mesma constitui um quaternário de<br />
referência .<br />
108<br />
Na aurora do pensamento grego os <strong>Síxpavoi</strong> poderão aparecer<br />
revalorizados por esta interpretação pitagórica mais consentânea<br />
com o sentido iniciático e com as influências da filosofia itálica<br />
no «Poema» de Parménides . Por outro lado, tentando repôr<br />
os Síxpavot no contexto interpretativo 109 do «Poema» de Parménides<br />
verifica-se que a figura que destes se obtém através de uma herme-<br />
1 0 6<br />
Sobre a identidade abstracta do ser e do nada cf. HEGEL, Wissenschaft der Logik<br />
(G. Lasson), Hamburg, F. Meiner, 1967, p. 67; sobre uma infinita proliferação serial<br />
cf. por exemplo ARISTÓTELES, Met., K, 1068 a, 33 e segs. Cf. também G- DELEUZE,<br />
Logique du Sens, Paris, Minuit, 1969, pp. 261 e segs.<br />
1 0 7<br />
Cf. C. H. do C. SILVA, DO Ser e da Aparências ou da Diferença Ontológica<br />
Fundamental (tese de Licenciatura), Lisboa, 1970, t. II, pp. 485 e segs: Ontologia da Diferença.<br />
1 0 8<br />
Cf. C. H. do C. SILVA, «O Pensamento da Diferença no «De Divisione<br />
Naturae» de Escoto Eriúgena», in Didaskalia, vol. III, 1973, pp. 278 e segs.: O quaternário<br />
da divisão (cf. sobretudo pp. 281-284 sobre a estrutura quaternária da dialéctica).<br />
1 0 9<br />
Cf. M. CORNFORD, From Religion to Philosophy, p. 214 e segs. A partir desta<br />
determinação fundamental que corresponde a uma perspectiva crítica sobre o pensamento<br />
de Parménides e dos pré-socráticos poder-se-ia induzir uma também necessária e legítima<br />
revalorização do pensamento de Platão e de Aristóteles numa perspectiva pitagórica,que<br />
só não foi esquecida no Ocidente no momento breve da descoberta do moderno espírito<br />
científico. Veja-se sobre este assunto de A. KOYRÉ, «Galilée et Platon», in: Études d'Histoire<br />
de la pensée scientifique, Paris, P. U. F., 1966, pp. 147 e segs..