Síxpavoi
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35S<br />
didaskalia<br />
Por conciliadora e sugestiva que pareça ser esta perspectiva<br />
evolucionista, introduzindo como que uma dialéctica entre as concepções<br />
hoje inconscientes, mas outrora manifestas ao nível da<br />
própria consciência, tem como suposto um quadro mítico de<br />
referência cosmológico ou cosmogónico. Tal pressuposto torna-se<br />
redutor do sentido antropológico e integrador deste como parte do<br />
Todo ou como mero elo dentro do processo cósmico.<br />
De um outro ponto de vista encontra-se a sobrevalorização do<br />
quadro antropológico de referência mítica e simbólica quando<br />
determinado pelos limites da imaginação e da possibilidade material<br />
que a permite concretizar. Trata-se da interpretação que se encontra<br />
formulada por Gaston Bachelard numa concepção da imaginação<br />
material e dos espaços definidos por tais matérias imagináveis<br />
dementais . A imaginação não considerada de um ponto de<br />
vista formal, 171 como uma faculdade dependente de uma concepção<br />
humanística do sujeito de referência, mas como exercício e realização<br />
de formas a partir de contextos e de matérias imagináveis<br />
diz-se, segundo Bachelard, referida na estrutura quaternária dos<br />
elementos. O fogo, o ar, a água e a terra são como que os signos<br />
ou as imagens matrizes que permitem compreender, tal como<br />
no pensador de Agrigento, a morfogénese poética, literária e mitológica<br />
de todas essas figuras e monstros do imaginário . Aquilo<br />
que se vislumbra em Bachelard é, de um modo muito 172 original,<br />
uma perspectiva morfogenética do próprio sentido antropológico,<br />
não pautado pela razão, nem pelos dados empíricos de uma arqueologia,<br />
mas pelos poderes concretizantes do próprio imaginário.<br />
Todas as interpretações já referidas estabelecem diferentes contextos<br />
para o entendimento genérico do simbolismo. Poder-se-á<br />
perguntar, desde início, como é que os ãíxpavoi de Parménides<br />
seriam encarados em cada uma destas linhas maiores de hermenêutica<br />
1 7 1<br />
Cf. G. BACHELARD, La Poétique de la Rêverie, Paris, P.U.F., i960 1 , 1968".<br />
Veja-se também do mesmo autor as quatro obras sobre a poética dos quatro elementos.<br />
1 7 2<br />
Cf. G. BACHELARD, L'Eau et les rêves-Essai sur l'imagination de la matière; Paris,<br />
J. Corti, 1942, pp. 4-5: «En effet, nous croyons possible de fixer, dans le règne de l'imagination,<br />
une loi des quatre éléments qui classe les diverses imaginations matérielles suivant qu'elles<br />
s'attachent au feu, à l'air, à l'eau ou à la terre. Et s'il est vrai, comme nous le prétendons,<br />
que toute poétique doive recevoir des composants, — si faibles qu'elles soient — d'essence<br />
matérielle, c'est encore cette classification par les éléments matériels fondamentaux qui doit<br />
apparenter le plus fortement les âmes poétiques.» Cf. ld., L'air et les songes; La Terre et les<br />
Rêveries de la Volonté; La Terre et les Rêveries du Repos.