Síxpavoi
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Aíxpavoi: da dupla visão ao discernimbnto 367<br />
mente assumem na tradição o sentido do andrógino na acepção<br />
que este termo passou a ter na cultura grega tardia, ou seja,<br />
de Y^vávSpoç ou de ser neutrum .<br />
Por contraste com este sentido 202 tardio degradado do Hermafrodita<br />
existe a revalorização do Andrógino primordial como ser<br />
macho e fêmea, duplo poder criador e símbolo de perfeição:<br />
contraste que é também o do processo mediador e operativo da<br />
combinatória e da mistura hermafrodítica por oposição ao sentido<br />
do processo originário imediato e pleno do ser andrógino.<br />
Nas cosmogonias órficas e pitagóricas existem algumas referências<br />
ao nascimento do cosmos e dos primeiros seres a partir de<br />
ovos . O nascimento ovíparo do primeiro homem no seio da<br />
Terra-mãe 203 corresponde a uma antiga tradição comum à mitologia<br />
védica, tibetana e de um modo geral a uma persistência universal<br />
mítica do próprio símbolo do ovo . A antropogonia órfica refere<br />
esses primeiros humanos nascidos de 204 ovos ou de geração espontânea<br />
como seres duais, geminados, andróginos. As concepções pitagóricas<br />
que explicam o nascimento da Díade a partir da Mónada reflectem<br />
a necessidade de uma matéria prima, de uma Terra-mãe, de uma<br />
Noite ou de um Cháos, do qual se recorta a própria luz e o começo<br />
da nova ordo, e o andrógino identificado com a Díade representa<br />
o momento da plenitude matricial ainda virgem e prévio na sua<br />
completude a qualquer geração (tríade e processos triádicos, familiares).<br />
Num texto hermético bastante tardio, mas que reflecte a influência<br />
pitagórica encontra-se a referência ao Adão primordial como<br />
um andrógino que se apresenta como uma jovem donzela virgem .<br />
Este sentido virginal da plenitude do ser andrógino num estádio<br />
205<br />
anterior a toda a procriação aparece ainda mais nítido na descrição<br />
deles feita por Platão.<br />
2 0 2<br />
Cf. M. DELCOURT, Hermaphrodite, p. 110, nota 1: «La litérature philosophique<br />
dit toujours mâle et femelle ou mâle-femelle. Le mot hermaphrodite n'est qu'accessoirement<br />
adjectif. Quand à androgynos, il s'est tôt dégradé et a pris la signification péjorative qui est<br />
celle de gynandros. Le même glissement que nous avons signale dans la légende du dieu<br />
double l'avait fait passer de utrumque à neutrum.»<br />
2 0 3<br />
Cf. a lenda dos Dioscuros, APOLODORO, BIM., III, 10,6 e segs.; Cf. P. GRIMAL,<br />
Dictionnaire de la Mythologie Crecque et romaine, p. 128 a-b.<br />
2 0 4<br />
Sobre o simbolismo do ovo cf. M. ELIADE, Traité d'Histoire des Réligions,<br />
pp. 347-9; cf. também J. CHEVALIER, Dictionnaire des Symboles, pp. 552-555.<br />
2 0 5<br />
Cf. N. BERDIAEFF, «La Doctrine de la Sophia et de L'Androgyne» (ed. cit.), p. 30.<br />
Cf. também M. DELCOURT, Hermaphrodite, pp. 116-117. Sobre a tradição pitagórica e na<br />
acepçïo de uma unidade primordial divina que se divide em seres duplos cf. Poimandres, § 16.