Síxpavoi
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Aíxpocvoi: DA DUPLA VISÃO AO DISCERNIMENTO 313<br />
intervalar de ambiguidade da época contemporânea numa transição<br />
e numa indefinição . Porém, actualizam-se de forma paradoxal<br />
em Parménides, de 16 quem se poderia dizer que não vem tarde<br />
demais para os deuses nem cedo demais para o Ser, porque,<br />
com efeito, neste pensador eleático encontra-se inteira a identificação<br />
do lógos do {AS$OÇ e o círculo mítico do Xóyoç. Não é um elo<br />
de ligação, uma mediação entre o mito e a razão ou um ponto de<br />
equilíbrio em que se indiferenciem mutuamente. Pelo contrário,<br />
é o momento diferencial em que mito e lógos se dão um ao outro<br />
como ser e pensar na mesmidade irredutível a qualquer identificação<br />
.<br />
17<br />
A própria questão da autoria do «Poema» e sua personificação<br />
e identificação em Parménides não é muito importante, havendo<br />
muitos traços no Poema que apontam para uma tradição comum da<br />
qual se se quiser excluir as tónicas gnômicas dos aforismos heracliteanos,<br />
não se poderá outrossim fazê-lo em relação aos fragmentos<br />
da escola pitagórica e sobretudo a esse mago de Agrigento, o filósofo<br />
do Etna, o célebre Empédocles .<br />
E neste contexto expurgado 18 das luzes do racionalismo moderno<br />
e do escolasticismo dialectizante que se depara com a linguagem<br />
antiga e ainda penumbrática do Poema de Parménides. Dos<br />
fragmentos possuídos desde a recolha feita por Diels na crítica à<br />
antiga doxografia, e na ordenação diversa de alguns deles proposta<br />
por Kranz na obra fundamental de referência de que hoje se dispõe,<br />
muitos têm sido extensamente comentados em variadíssimos estudos,<br />
alguns dos quais lineares na hermenêutica, na tradução crítica, e<br />
mesmo na reflexão e meditação . Todo esse labor poder—se-ia<br />
19<br />
1 6<br />
M. HEIDEGGER, AUS der Erfahrung des Denkens, Stuttgart, Pfullingen, 1965 ,<br />
p. 7: « / Wir kommen für die Götter zu spät und zu fr ü/ für das Seyn. Dessen angefangenes<br />
2<br />
Gedicht ist der / Mensch. /».<br />
1 7<br />
Cf. PARMÉNIDES, frag. 3(5): (...) TÒ yàp aÒTÒ voeív ÈCTTÍV TE xal eivai. (D.-K.,<br />
t. I, 231); CORNFORD, From Religion to Philosophy, pp. 125 e segs.<br />
1 8<br />
Com efeito existe uma tradição comum pitagórica desde os mais antigos fragmentos<br />
dos primeiros autores da escola de Pitágoras até ao platonismo e ao neo-platonismo.<br />
Parménides, discípulo do pitagórico Amínias tem muitas afinidades temáticas e até de<br />
nomenclatura com tal tradição. As mais relevantes aproximações podem fazer-se entre o<br />
Eleata e Empédocles de Agrigento. Sobre este último cf. J. ZAFIROPUIO, Empédocle d'Agrigente,<br />
Paris, Beiles Lettres, 1953 e também J. BOLLACK, Empédocle 3 vols in 4, Paris, Minuit, 1965-69.<br />
1 9<br />
Cf. Hermann DIELS e Walther KRANZ, Die Fragmente der Vorsokratiker (1903 ),<br />
(ed. cit. supra) e a divergência na ordenação dos fragmentos 2, 3, 4 e 5, sendo o segundo<br />
1<br />
e o terceiro da reordenação estabelecida por Kranz (1934 ) respectivamente o quarto e o<br />
quinto na ordenação primitiva de Diels. Como obra complementar 5 à recolha de textos dos<br />
pré-socráticos deve citar-se ainda a obra que a antecedeu, também preparada e editada<br />
por H. DIELS, Doxographi Graeci, Berlin, 1879; reed. Walter de Gruyter, 1965.