Síxpavoi
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348 didaskalia<br />
Duas futuras filosofias têm aqui a sua génese: a do uno e do múltiplo,<br />
a do um e do alter, a da totalidade e suas relações; e, por outro<br />
lado, a do único e sua diferenciação, a da diferença e sua mesmidade<br />
ou a do infinito e sua integração .<br />
Os Síxpavot, encontram desde 134 a Díade de Pitágoras até aos<br />
desenvolvimentos da filosofia platónico-pitagórica tardia uma pertinência<br />
de sentido. Tanto a antropologia implícita na lírica grega<br />
mais antiga quanto os desenvolvimentos da poesia de índole pitagórica<br />
em Empédocles de Agrigento delimitam um horizonte próximo<br />
do «Poema» de Parménides e atestam a importância dos <strong>Síxpavoi</strong><br />
como primitiva concepção antropológica .<br />
135<br />
No poema do mago de Agrigento descrevem-se várias fases da<br />
constituição cósmica dependentes das forças contrárias que agregam<br />
ou desagregam os elementos. No que diz respeito à formação dos<br />
seres vivos a descrição implica um estádio primitivo em que<br />
membros e órgãos errantes ainda não se agregaram para formar<br />
corpos e seres harmónicos. São braços e pernas, olhos e cabeças que<br />
irão só mais tarde unificar-se quer por afinidades teratológicas, quer<br />
por oposição não menos teratológica .<br />
136<br />
Monstros formados por muitos membros, muitos olhos, muitas<br />
cabeças, seres de verdadeira imaginação onírica, que agregam a<br />
cabeça directamente aos membros, sem o corpo, ou que se cindem<br />
em meiose reprodutora — eis uma plurímoda descrição de um<br />
nível que se poderia considerar de embriogénese simbólica da<br />
compreensão do homem no drama cósmico de Empédocles .<br />
137<br />
Espera-se encontrar os Síxpavot e, de facto, a referência a seres<br />
andróginos com dupla face, com cabeças de bois aparece em<br />
1 3 4<br />
Cf. J. ZAFIROPULO, Apollon et Dionysos — Un Essai sur la notion d'impermanence,<br />
Paris, Belles Lettres, 1961. Trata-se do desenvolvimento filosófico de duas hipóteses de<br />
fundo: a do contínuo e a do descontínuo, além do jogo que entre si tais hipóteses podem<br />
estabelecer. Assim, à filosofia dos jónios, dos atomistas e dos socráticos contrapõe-se a<br />
linha de pensadores pitagóricos, eleatas e pluralistas que se continuam nos neo-platónicos<br />
e nos neo-pitagóricos, sendo os primeiros defensores do uno e do múltiplo e os segundos<br />
do único, suas diferenciações e sua infinitude.<br />
1 3 5<br />
Cf. J. ZAFIROPULO, Empédor.le d'Agrigente, Paris, Belles Lettres, 1953, pp. 149 e segs..<br />
1 3 6<br />
Cf. EMPÉDOCLES, frag. 57 (D. K., t. I, p. 333): «/r,L roXXod (jiv xópaai<br />
áváuyeveç ê[3XáaT*)aav, / yu(IVOT S'ÈTvXà^ovro (3payíoveç suvtSeç ÙS;J.GJV, / ÔY^LOLTÀ<br />
T'ol(A) èrcXavôcTO 7TEVY]-REÚ0VTA (XETCOTTUV. /» cf. também a referência ao episódio de<br />
Circe em APOLÔNIO DE RODES (Argonautica, IV, 672 e segs.) em que se refere a geração<br />
de monstros nascidos de uma composição anómala dos elementos. Segundo J. CHEVALIBR<br />
(Histoire de la Pensée, I: La Pensée Antique, p. 98, nota 2) Parménides admitiria a origem<br />
terrestre (èÇ îXvioç) do homem.<br />
1 3 7<br />
Cf. Jean BOLLACK, Empédocle, t. I: Introduction à l'ancienne Physique, Paris, Minuit,<br />
1965, pp. 201 e segs..