21.05.2014 Views

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

109<br />

seja como test<strong>em</strong>unha do fato, seja pelas digressões presentes na<br />

narrativa; 5) os <strong>de</strong>stinos a que a narrativa conduz o leitor, que t<strong>em</strong>as,<br />

objetivos e visão <strong>de</strong> mundo estão por trás dos fatos narrados. Antes <strong>de</strong><br />

iniciar a análise, vale contextualizar brev<strong>em</strong>ente as duas obras.<br />

< ><br />

<strong>Abusado</strong> conta a história da “ascensão e queda” do traficante<br />

Juliano VP 57 , sua inserção no Comando Vermelho, suas relações<br />

pessoais, com a comunida<strong>de</strong>, com a polícia e com a mídia. Embora a<br />

proposta inicial <strong>de</strong> Barcellos fosse contar a história do crime organizado<br />

na favela Santa Marta 58 , encravada no morro Dona Marta, no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, o livro acaba sendo a biografia <strong>de</strong> Marcinho/Juliano VP 59 . Mesmo<br />

assim, o jornalista realiza um trabalho <strong>de</strong> investigação e <strong>de</strong> apuração<br />

minucioso que revela como o tráfico se organiza e organiza a vida das<br />

pessoas na favela. Ao contrário do tratamento dado à violência pela<br />

gran<strong>de</strong> imprensa, o romance-reportag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Caco Barcellos propõe um<br />

mergulho na realida<strong>de</strong> controlada pelo tráfico no morro Dona Marta, num<br />

trabalho <strong>de</strong> pesquisa que levou quatro anos para ser concluído. Barcellos<br />

contextualiza os acontecimentos e <strong>de</strong>svenda muito do que a mídia<br />

distorce ou omite, revelando um mundo pouco conhecido fora das<br />

periferias dos centros urbanos.<br />

57 O autor optou por utilizar codinomes para preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos personagens, assim<br />

Juliano VP refere-se ao traficante Marcio Amaro <strong>de</strong> Oliveira, conhecido como Marcinho VP.<br />

58 No primeiro contato que fez com o traficante para as negociações do livro, Juliano VP sugeriu<br />

ao jornalista que escrevesse a biografia <strong>de</strong>le: “Tenho uma proposta. Quero que você escreva um<br />

livro sobre a história da minha vida.” (p. 459). Barcellos recusou: “Minha contraproposta é um<br />

livro sobre a tua quadrilha inteira, acho que a socieda<strong>de</strong> precisa conhecer melhor a vida <strong>de</strong><br />

vocês.” (p. 460).<br />

59 Vamos nos referir ao traficante como Juliano, s<strong>em</strong>pre que se tratar <strong>de</strong> fatos reportados no<br />

livro.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!