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Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

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mas as técnicas permaneceram e se aperfeiçoaram no que hoje se<br />

chama jornalismo narrativo ou jornalismo literário 23 .<br />

IV<br />

Assim como a França do século XIX, o Brasil do início do<br />

século XX também viu os escritores buscar<strong>em</strong> no jornalismo<br />

reconhecimento e r<strong>em</strong>uneração. Esta aproximação entre literatura e<br />

jornalismo levou Paulo Barreto – ou João do Rio, como ele assinava suas<br />

crônicas – a formular, <strong>em</strong> 1904 na Gazeta <strong>de</strong> Notícias, a seguinte<br />

questão: “O jornalismo, especialmente no Brasil, é um fator bom ou mau<br />

para a arte literária?” 24 . A maioria concordava que o jornalismo favorecia<br />

a literatura. O piauiense Félix Pacheco – poeta, tradutor e jornalista, coproprietário<br />

do Jornal do Commercio – respon<strong>de</strong> na época que “toda a<br />

melhor literatura brasileira dos últimos trinta e cinco anos fez escala pela<br />

imprensa” (apud SODRÉ, 1999, p. 292). O escritor e jornalista Me<strong>de</strong>iros<br />

<strong>de</strong> Albuquerque achava que não era o jornalismo que prejudicava a<br />

literatura, mas a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po dos escritores para se <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong> à sua<br />

arte. A polêmica não se resolveu, os escritores continuaram a <strong>de</strong>dicar seu<br />

t<strong>em</strong>po ao jornalismo e a outras ativida<strong>de</strong>s e a mo<strong>de</strong>rnização da imprensa<br />

brasileira – que passou a se adaptar lentamente ao mo<strong>de</strong>lo capitalista da<br />

imprensa norte-americana e europeia – é que, indiferente aos humores <strong>de</strong><br />

jornalistas e literatos, <strong>de</strong>cidiria a questão. Primeiro foi o folhetim que<br />

começou a escassear, até <strong>de</strong>saparecer, substituído pelos colunistas e<br />

23 Entre outras tantas nomenclaturas, como: narrativa criativa <strong>de</strong> não-ficção, narrativas da vida<br />

real, literatura da realida<strong>de</strong>, literatura criativa <strong>de</strong> não-ficção. Enfim...<br />

24 Sobre o inquérito feito por João do Rio, <strong>de</strong>pois reunido no livro O momento Literário, ver o<br />

estudo <strong>de</strong> Cristiane Costa (2006), que retoma a questão e a traz para o atual momento literário<br />

brasileiro, mapeando toda a produção <strong>de</strong> escritores jornalistas no Brasil <strong>em</strong> um século (1904-<br />

2004).

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