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Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

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Nos capítulos finais o narrador-jornalista retoma o fio da<br />

narrativa para sumarizar os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Juliano e <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua<br />

quadrilha. Embora ainda haja momentos <strong>de</strong> focalização interna, po<strong>de</strong>-se<br />

notar um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução do personag<strong>em</strong>: um Juliano falido<br />

e endividado volta ao Brasil para retomar o po<strong>de</strong>r no morro, mas é<br />

frustrado pelo caso Salles. Herói e ídolo dos adolescentes do tráfico,<br />

ainda comanda algumas ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do presídio, mas, distante dos<br />

amigos, omite-se e <strong>de</strong>saponta os que eram mais próximos. Nestas<br />

sumarizações o narrador se permite também alguns juízos: “o funesto<br />

Patrick do Vidigal” (p. 539); “A quarta geração <strong>de</strong> traficantes do CV na<br />

Santa Marta chegaria ao comando s<strong>em</strong> nenhuma baixa e nenhum<br />

escrúpulo pela ganância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.” (p. 541).<br />

O último capítulo alterna as vozes do narrador-jornalista e do<br />

repórter-narrador. Este suspen<strong>de</strong> a narrativa para um comentário<br />

avaliativo da situação <strong>de</strong> violência dos jovens no tráfico e a <strong>de</strong>volve ao<br />

narrador-jornalista, que finaliza com duas histórias <strong>de</strong> jovens mortos na<br />

guerra interna do tráfico e nas mãos da polícia, traduzindo para o mundo<br />

concreto a reflexão crítica.<br />

< ><br />

Roberto Schwarz (1999), <strong>em</strong> sua crítica ao romance <strong>de</strong> estreia<br />

<strong>de</strong> Paulo Lins, <strong>de</strong>stacava a qualida<strong>de</strong> singular da estrutura narrativa <strong>de</strong><br />

<strong>Cida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong>, que reúne uma anticonvencional pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

registros: filmes <strong>de</strong> ação, pesquisa <strong>de</strong> campo, jornalismo sensacionalista,<br />

narrativa naturalista, relatório científico, terminologia policial, marcas <strong>de</strong><br />

oralida<strong>de</strong> e uma insolente nota lírica. Todos estes registros estão

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