Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
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que resultou na morte <strong>de</strong> Cabeludo e na tomada do comando do tráfico<br />
por Zaca, Juliano passou a ser perseguido pelos quadrilheiros inimigos.<br />
Teve que <strong>de</strong>ixar a favela para morar no morro do Cantagalo com o casal<br />
Paulista e Maria Brava. A convivência com casal, que passa a ser sua<br />
segunda família, vai mostrar a Juliano “o caminho do crime como meio<br />
<strong>de</strong> vida” (p. 143).<br />
Se Paulista e Brava são os mentores <strong>de</strong> Juliano, Carlos da<br />
Praça –o atravessador, que <strong>de</strong>pois se voltaria contra Juliano para tirá-lo<br />
da chefia do tráfico no morro – vai ser o condutor <strong>de</strong> Juliano no percurso<br />
para se tornar o dono do morro Dona Marta. É ele qu<strong>em</strong> alimenta o<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Juliano <strong>de</strong> se vingar da quadrilha que o expulsou da favela e a<br />
ambição <strong>de</strong> retomar o morro do comando <strong>de</strong> Zaca e se tornar o novo<br />
chefe do tráfico no local. Não apenas isso, mas convoca Juliano para<br />
levar a droga a outros estados. Os interesses dos dois convergiam, com a<br />
guerra Carlos da Praça também havia perdido seu posto <strong>de</strong> fornecedor da<br />
Santa Marta e tinha interesse <strong>em</strong> ter um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> sua confiança no<br />
comando do tráfico na favela. A retomada acontece como planejara<br />
Carlos da Praça:<br />
- Chegou a tua hora, Juliano. Você vai comandá o bon<strong>de</strong><br />
- disse Carlos da Praça assim que reencontrou Juliano no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Juliano ficou orgulhoso com a missão, mas reagiu como<br />
se não <strong>de</strong>sse muita importância ao papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r.<br />
- A verda<strong>de</strong>ira li<strong>de</strong>rança será a nossa união! - respon<strong>de</strong>u,<br />
s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar muito claro que estava concordando com a<br />
tarefa.<br />
Mas na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir a formação do bon<strong>de</strong> e a tática do<br />
ataque, aos poucos a voz <strong>de</strong> Juliano foi naturalmente se<br />
impondo. (BARCELLOS, 2004, p. 179)<br />
A li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Juliano <strong>de</strong>sponta – pela palavra e pela atitu<strong>de</strong> –<br />
e t<strong>em</strong> o apoio dos criminosos mais experientes. Após a retomada do<br />
morro, no entanto, Juliano t<strong>em</strong> que dividir com outros dois quadrilheiros,<br />
Claudinho e Raimundinho, a gerência do tráfico no Dona Marta. Os