21.05.2014 Views

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

66<br />

curiosida<strong>de</strong> popular, como escândalos, <strong>de</strong>sastres e conflitos, com<br />

técnicas <strong>de</strong> suspense, personagens heróicos ou pitorescos e<br />

dramatização dos acontecimentos, priorizando a sensação e a <strong>em</strong>oção ao<br />

tratamento crítico e investigativo dos fatos. Cabe à <strong>em</strong>presa jornalística,<br />

no plano institucional, e ao jornalista, no âmbito <strong>de</strong> sua relação com a<br />

<strong>em</strong>presa e com seus leitores, a opção pela forma como a realida<strong>de</strong> vai<br />

ser construída no relato, ou seja, se se vai reportar os fatos como<br />

espetáculo ou como acontecimentos que mereçam contextualização,<br />

aprofundamento e análise.<br />

É nessa disputa pelas atenções com os diversos meios que<br />

uma das alternativas vislumbradas por <strong>em</strong>presas e profissionais do<br />

jornalismo impresso para fugir ao lugar comum da notícia como<br />

entretenimento é retomar a tradição das gran<strong>de</strong>s reportagens, que <strong>em</strong><br />

seu t<strong>em</strong>po se opuseram ao sensacionalismo também predominante na<br />

imprensa da época, apresentando diversos pontos <strong>de</strong> vista, retratando<br />

vividamente os acontecimentos e as pessoas neles envolvidas, afastando<br />

o leitor da vertig<strong>em</strong> noticiosa e espetacular, oferecendo-lhe relatos<br />

particularizados que permit<strong>em</strong> entrever um paradigma do mundo. Em<br />

conferência proferida na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guadalajara, no México, Tomás Eloy<br />

Martínez assim elucida a importância que a narrativa v<strong>em</strong> conquistando<br />

no jornalismo impresso:<br />

Cuando le<strong>em</strong>os que hubo cien mil víctimas en un<br />

mar<strong>em</strong>oto <strong>de</strong> Bangla<strong>de</strong>sh, el dato nos asombra pero no<br />

nos conmueve. Si leyéramos, en cambio, la tragedia <strong>de</strong><br />

una mujer que ha quedado sola en el mundo <strong>de</strong>spués <strong>de</strong>l<br />

mar<strong>em</strong>oto y siguiéramos paso a paso la historia <strong>de</strong> sus<br />

pérdidas, sabríamos todo lo que hay que saber sobre ese<br />

mar<strong>em</strong>oto y todo lo que hay que saber sobre el azar y<br />

sobre las <strong>de</strong>sgracias involuntarias y repentinas. Hegel<br />

primero, y <strong>de</strong>spués Borges, escribieron que la suerte <strong>de</strong><br />

un hombre resume, en ciertos momentos esenciales, la<br />

suerte <strong>de</strong> todos los hombres. Esa es la gran lección que<br />

están aprendiendo los periódicos en este fin <strong>de</strong> siglo.<br />

(1997, p.1)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!