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Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

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43<br />

Consi<strong>de</strong>rada um gênero híbrido 25 que transita entre fato e<br />

ficção, a crônica <strong>em</strong> sua orig<strong>em</strong> esteve ligada ao folhetim, sendo<br />

publicada nos rodapés dos jornais. O cronista era o observador dos<br />

costumes e do cotidiano, o espião da vida, que com sua pena atenta e<br />

b<strong>em</strong> humorada, por vezes <strong>de</strong>stilando ironia, representava o trivial, o<br />

passageiro, o assunto do momento s<strong>em</strong> muita importância. A crônica teria<br />

sido, segundo José A<strong>de</strong>raldo Castello, um laboratório literário para<br />

Machado <strong>de</strong> Assis. Do lugar <strong>de</strong> espectador privilegiado, ele <strong>de</strong>senvolveria<br />

“sugestões e situações <strong>de</strong>cisivas para a ficção.” (apud COSTA, 2005, p.<br />

248). Muitos autores, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, também fariam o mesmo, ao usar a<br />

crônica como experimento para a prosa literária.<br />

Situada entre o efêmero e o perene, a crônica nasce do olhar<br />

subjetivo do cronista, atento ao <strong>de</strong>talhe banal <strong>de</strong> uma notícia ou <strong>de</strong> um<br />

fato qualquer, que registra o circunstancial com humor, ironia,<br />

sensibilida<strong>de</strong> crítica ou lírica. É a negação da notícia. Coloquial, o estilo<br />

da crônica se aproxima da linguag<strong>em</strong> falada e repercute seu hibridismo:<br />

direto, espontâneo, quase jornalístico, quase um bate-papo entre amigos,<br />

com direito às ambiguida<strong>de</strong>s e poliss<strong>em</strong>ias do texto literário. A crônica<br />

seria, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Marcelo Coelho (2002), “uma espécie <strong>de</strong> avesso, <strong>de</strong><br />

negativo da notícia.” (p. 156). Ao voltar o olhar para o corriqueiro, o<br />

aparent<strong>em</strong>ente s<strong>em</strong> importância, o cronista escolhe a singularida<strong>de</strong> que<br />

brota do acaso para verter sua visão <strong>de</strong> mundo através do texto, como<br />

esclarece Antonio Candido:<br />

Por meio dos assuntos, da composição aparent<strong>em</strong>ente<br />

solta, do ar <strong>de</strong> coisa s<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> que costuma<br />

assumir, ela se ajusta à sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo dia.<br />

Principalmente porque elabora uma linguag<strong>em</strong> que fala<br />

<strong>de</strong> perto ao nosso modo <strong>de</strong> ser mais natural. Na sua<br />

25 Utilizamos aqui o conceito <strong>de</strong> híbrido na acepção <strong>de</strong> fusão ou interpenetração <strong>de</strong><br />

el<strong>em</strong>entos diferentes, e <strong>em</strong> suas <strong>de</strong>rivações, conforme <strong>de</strong>finição do Dicionário Houaiss da<br />

Língua Portuguesa: “híbrido adj.s.m. [...] 4. fig. que ou o que é composto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />

diferentes, heteróclitos, disparatados. .” (Houaiss, 2001, p. 1526).

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