Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
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Estes pontos que <strong>de</strong>stacamos <strong>em</strong> Eagleton coincid<strong>em</strong> com as<br />
d<strong>em</strong>arcações feitas por Luiz Costa Lima, no intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o<br />
alcance do literário. Costa Lima (2006) estabelece algumas restrições,<br />
<strong>de</strong>limitando três esferas <strong>de</strong>ntro das quais se po<strong>de</strong>ria perceber o vasto<br />
território da literatura: <strong>em</strong> primeiro lugar, a literatura seria poesia e<br />
romance, ou seja, se constituiria sobre um estatuto ficcional com<br />
preocupações estéticas; <strong>em</strong> segundo lugar, seria uma obra que<br />
originalmente serviria a um propósito outro que não o ficcional e o<br />
estético, mas que, per<strong>de</strong>ndo a importância no seu âmbito inicial <strong>de</strong><br />
atuação, pela <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do trabalho com a linguag<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ria ser<br />
consi<strong>de</strong>rada literatura; por fim, literatura abarcaria qualquer obra no<br />
campo mais geral da produção literária que, por não ter uma<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida, cairia neste território amplo que abarca tudo, ou<br />
quase tudo, como os best-sellers, por ex<strong>em</strong>plo, e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua<br />
qualida<strong>de</strong> valeria pela aceitação do público. Costa Lima <strong>de</strong>staca também<br />
os gêneros híbridos, obras que continuam tendo importância <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
sua área <strong>de</strong> formulação, mas que pela qualida<strong>de</strong> do texto, pela espessura<br />
da linguag<strong>em</strong> também po<strong>de</strong>riam ser apreciadas como literatura.<br />
Na mesma linha <strong>de</strong> Costa Lima e <strong>de</strong> Terry Eagleton – para<br />
qu<strong>em</strong> seria impossível <strong>de</strong>finir o território da literatura –, também Marthe<br />
Robert (2007) não encontra <strong>de</strong>finição precisa para o termo romance.<br />
Robert percorre as origens do romance, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> François Rabelais no<br />
século XVI, Miguel <strong>de</strong> Cervantes, no XVII, e Daniel Defoe, no XVIII, para<br />
chegar aos romancistas do século XX, passando pelos realistas e<br />
naturalistas do XIX, perscrutando as variações do gênero, as <strong>de</strong>finições<br />
enciclopédicas, as tentativas <strong>de</strong> classificação do romance, os<br />
prescritivismos da crítica e os juízos dos próprios romancistas para<br />
concluir que “o romance não t<strong>em</strong> regras n<strong>em</strong> freios, sendo aberto a todos<br />
os possíveis” (p. 14), e <strong>em</strong> toda a sua contradição o gênero não diz “o que