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Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

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escrita literária. Os anos 1830 8 são marcados pelo <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

romance e pela expansão da imprensa. Há um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

escritores – <strong>de</strong> iniciantes a autores já estabelecidos – <strong>em</strong>pregados nos<br />

jornais, sobrevivendo <strong>de</strong>ste trabalho. Os jornais passam a ser um meio <strong>de</strong><br />

ingresso natural <strong>de</strong> escritores no mundo da literatura e uma ponte<br />

também para a política. Entretanto, o escritor que colabora com a<br />

imprensa permanece insatisfeito, sua ambição é ser reconhecido como<br />

literato mas, s<strong>em</strong> espaço para publicação, encontra nos jornais uma<br />

oportunida<strong>de</strong> para escrever e uma forma <strong>de</strong> ser r<strong>em</strong>unerado. A imprensa<br />

também não lhe dá o reconhecimento <strong>de</strong>vido, uma vez que ele não assina<br />

os artigos que publica ou os assina sob pseudônimos ou iniciais<br />

fantasiosas. De qualquer modo, esta maneira <strong>de</strong> sobreviver lhe dá o<br />

privilégio <strong>de</strong> ser test<strong>em</strong>unha da vida social, intelectual e política <strong>de</strong> sua<br />

época e sua escritura é transformada pela tensão permanente que<br />

enfrenta por estar situado entre a ativida<strong>de</strong> literária e a ativida<strong>de</strong><br />

jornalística. Este entre-lugar termina por contaminar a prosa <strong>de</strong> ficção<br />

com uma escrita documental e estes escritores jornalistas passam a fazer<br />

experimentações estilísticas – seja preparando tipos ou personagens que<br />

serão <strong>de</strong>senvolvidos <strong>em</strong> seus futuros romances, seja realizando um<br />

estudo atento dos costumes e da moral <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po. Sua produção<br />

literária é marcada por uma intensa referencialida<strong>de</strong>, pela atenção aos<br />

<strong>de</strong>talhes e um interesse acentuado e permanente pela fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> das<br />

representações (LYON-CAEN, 2006).<br />

Nenhum outro escritor retratou as interinfluências do meio<br />

jornalístico na literatura com tanta acuida<strong>de</strong> e com uma compreensão tão<br />

exata do assunto quanto Balzac – que foi, ao mesmo t<strong>em</strong>po, jornalista e<br />

8 Período <strong>em</strong> que se inicia, na França, a Monarquia <strong>de</strong> Julho e que, para Arnold Hauser, é quando<br />

efetivamente começa o século XIX, pois seus aspectos mais característicos como o capitalismo<br />

industrial, o trabalho assalariado, o triunfo do capital financeiro sobre o patrimônio fundiário e as<br />

reformas eleitorais que preparam um novo mo<strong>de</strong>lo político já estão <strong>em</strong> curso (cf. HAUSER, 1998,<br />

pp. 727-786).

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