Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
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O ato <strong>de</strong> narrar implica a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> movimento, ou<br />
seja, a representação <strong>de</strong> ações e transformações que se <strong>de</strong>senrolam <strong>em</strong><br />
sequências numa dimensão t<strong>em</strong>poral, isto é, numa sucessão <strong>de</strong> eventos<br />
que se estabelec<strong>em</strong> pela relação <strong>de</strong> anteriorida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> posteriorida<strong>de</strong>. O<br />
discurso jornalístico, assim, não po<strong>de</strong> ser visto como completamente<br />
estático pois há s<strong>em</strong>pre uma narrativa mais ampla, uma metanarrativa, na<br />
qual ele parece encaixar-se, ou <strong>em</strong> termos comparativos, por ex<strong>em</strong>plo, a<br />
guerra do Iraque é como a do Vietnam, a crise econômica <strong>de</strong> 2008 é tão<br />
grave quanto a <strong>de</strong> 1929 etc.; ou <strong>em</strong> termos cumulativos: outro <strong>de</strong>sastre,<br />
mais um fim <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> violência; ou num <strong>de</strong>sdobramento, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, uma crise política, um golpe <strong>de</strong> estado, uma CPI etc.; ou ainda<br />
através <strong>de</strong> conexões históricas, <strong>de</strong>liberadas ou não, entre os fatos.<br />
III<br />
A crise que se vê hoje na gran<strong>de</strong> imprensa – atribuída à<br />
crescente expansão da internet, à influência das novas formas <strong>de</strong><br />
comunicação e à mudança <strong>de</strong> interesses das novas gerações – indica<br />
que o jornalismo comprometido com a cobertura dos acontecimentos<br />
importantes e as gran<strong>de</strong>s reportagens que procuram aprofundar questões<br />
<strong>de</strong>terminantes na atualida<strong>de</strong> têm perdido espaço para a informação<br />
tratada como entretenimento, <strong>em</strong> abordagens triviais ou sensacionalistas,<br />
prática cada vez mais comum nos meios <strong>de</strong> comunicação e que passou a<br />
ser conhecida na língua inglesa como infotainment – infoentretenimento,<br />
<strong>em</strong> português – ou, num português anglicizado, showrnalismo, como<br />
prefere José Arbex (2001). De qualquer forma, é informação tratada como<br />
espetáculo. A gran<strong>de</strong> imprensa acaba, assim, muitas vezes<br />
espetacularizando as notícias – tratando <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as que excitam a