21.05.2014 Views

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

163<br />

narrativa realista <strong>de</strong> <strong>Abusado</strong> retoma a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um diálogo com<br />

as questões sociais do presente.<br />

Entretanto, se mostra uma parte do probl<strong>em</strong>a, como o<br />

comércio <strong>de</strong> drogas no varejo, a guerra entre as facções do crime<br />

organizado pelo controle <strong>de</strong> territórios nas favelas do Rio <strong>de</strong> Janeiro, sua<br />

crescente militarização e a relação dos bandidos com policias corruptos, o<br />

autor frustra qu<strong>em</strong> pensa encontrar <strong>em</strong> sua narrativa relações mais<br />

profundas entre o lucrativo negócio do tráfico <strong>de</strong> drogas e <strong>de</strong> armas e o<br />

crime organizado fora das favelas, suas relações políticas e os esqu<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> dinheiro. Ao direcionar sua lente à favela Santa Marta, ele<br />

parece esquecer que a maior parcela da responsabilida<strong>de</strong> pelo aumento<br />

incontrolado da violência urbana está fora das favelas.<br />

Se foi b<strong>em</strong> acolhido por uma parcela significativa do público e<br />

dos formadores <strong>de</strong> opinião, o livro <strong>de</strong> Barcellos também recebeu inúmeras<br />

críticas. Uma <strong>de</strong>las foi a <strong>de</strong> transformar Juliano <strong>em</strong> herói. Outra, mais<br />

contun<strong>de</strong>nte, foi a <strong>de</strong> ter publicado o livro sabendo que seu conteúdo<br />

explosivo po<strong>de</strong>ria precipitar a morte <strong>de</strong> Marcio Amaro <strong>de</strong> Oliveira, o<br />

Marcinho VP, representado no livro por Juliano. Foi o que acabou<br />

acontecendo, dois meses após o lançamento <strong>de</strong> <strong>Abusado</strong>. O t<strong>em</strong>or do<br />

jornalista a este respeito já havia sido expresso <strong>em</strong> seu primeiro encontro<br />

com o traficante, quando se recusou a escrever a biografia <strong>de</strong>le:<br />

- O probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong>sse é a consequência da<br />

notorieda<strong>de</strong>.<br />

- Não entendi.<br />

- Como você prefere ser chamado? De traficante, <strong>de</strong><br />

criminoso...<br />

- Bandido. Bandido!<br />

- L<strong>em</strong>bra do Lúcio Flávio, do Meio-Quilo, do Bolado, do<br />

Brasileirinho?<br />

- L<strong>em</strong>bro. L<strong>em</strong>bro.<br />

- E o que acontece com os bandidos no Brasil quando<br />

ficam mais conhecidos? Alguns são presos e tudo b<strong>em</strong>.<br />

Mas muitos são mortos. Não quero ser instrumento da<br />

morte <strong>de</strong> ninguém.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!