Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
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outro é preciso reconhecer que este olhar sobre a produção jornalística<br />
também reflete, a nosso ver, o caráter industrial da gran<strong>de</strong> imprensa que<br />
afeta a qualida<strong>de</strong> dos textos jornalísticos da atualida<strong>de</strong>. Benjamin<br />
percebeu a imprensa como uma usina <strong>de</strong> informação – uma indústria que<br />
capta, processa, analisa, organiza e distribui os fatos do mundo, um<br />
instrumento po<strong>de</strong>roso do alto capitalismo – e nesta perspectiva viu a<br />
informação se impor e provocar uma crise na narrativa. Mas, como<br />
costumava afirmar Borges, a narrativa vai s<strong>em</strong>pre estar presente, e como<br />
nos apontou Santiago, neste estudo, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar persiste e<br />
por isso as narrativas se reinventam e se renovam constant<strong>em</strong>ente.<br />
O jornalismo literário que volta com força nos t<strong>em</strong>pos presentes<br />
busca suprir a lacuna <strong>de</strong>ixada pela gran<strong>de</strong> imprensa e retoma a tradição<br />
narrativa do fazer jornalístico para aprimorar técnicas, olhares e texto.<br />
Entretanto, a prática jornalística está inserida num contexto social que se<br />
projeta para além do texto, pois os personagens narrados faz<strong>em</strong> parte do<br />
mundo, e, portanto, questões éticas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>radas.<br />
A conduta ética e responsável inclui uma atitu<strong>de</strong> transparente<br />
para os leitores e para as fontes. As fontes, que pod<strong>em</strong> se tornar os<br />
personagens das narrativas jornalísticas, têm o direito <strong>de</strong> saber com<br />
qu<strong>em</strong> e para qu<strong>em</strong> estão falando. Uma reportag<strong>em</strong> <strong>de</strong> imersão requer<br />
não apenas que os entrevistados sejam alertados sobre os procedimentos<br />
do jornalista, como também que estejam <strong>de</strong> acordo com os mesmos.<br />
Como vimos com as críticas recebidas por Barcellos, não bastam boas<br />
intenções e justificativas pelas escolhas e atitu<strong>de</strong>s. Neste sentido o texto<br />
jornalístico t<strong>em</strong> mais força que o literário pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
interferência concreta na vida das pessoas, principalmente daquelas<br />
sobre as quais se narra.<br />
A produção cont<strong>em</strong>porânea na literatura e no jornalismo<br />
ressalta a violência dos gran<strong>de</strong>s centros urbanos associada ao