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Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

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possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “ascensão social” <strong>de</strong>ntro do tráfico – e o status advindo<br />

daí, com a chance <strong>de</strong> conquista <strong>de</strong> dinheiro e mulheres, numa cultura<br />

excessivamente machista –, além da influência dos grupos <strong>de</strong> referência,<br />

como o envolvimento <strong>de</strong> parentes ou amigos no tráfico, são alguns dos<br />

fatores <strong>de</strong>tectados na inserção cada vez maior <strong>de</strong> jovens no crime<br />

organizado.<br />

A relação <strong>de</strong> Juliano e <strong>de</strong> sua quadrilha com a polícia é<br />

controversa. Se muitas vezes eles negociam propinas e armas com<br />

policiais civis e militares, e se a polícia muitas vezes se apresenta<br />

truculenta com os moradores, invadindo as casas na caça aos traficantes,<br />

valendo-se da autorida<strong>de</strong> e da força bruta, <strong>em</strong> outras ocasiões mostra-se<br />

acuada pela vantag<strong>em</strong> bélica e numérica das quadrilhas. As ações da<br />

polícia são circunstanciais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da política <strong>de</strong> segurança pública<br />

adotada pelas autorida<strong>de</strong>s governamentais do momento. Algumas poucas<br />

vezes, Barcellos parece justificar a atitu<strong>de</strong> corrupta da polícia e do<br />

sist<strong>em</strong>a carcerário:<br />

Paquetá era o apelido do carcereiro Aroldo Velloso Dias,<br />

que estava <strong>de</strong> plantão com outros dois colegas, Emanuel<br />

Albuquerque e Kleber do Nascimento. O salário dos três<br />

era igual, o equivalente a 320 dólares. Eles prestavam<br />

serviço <strong>de</strong> segurança particular para reforçar o salário.<br />

Dos três, Kleber era o que mais se queixava da situação<br />

financeira. Estava com os dois filhos doentes <strong>em</strong> casa,<br />

um <strong>de</strong>les com probl<strong>em</strong>as respiratórios graves. Os<br />

colegas diz<strong>em</strong> que ele pretendia usar o dinheiro do<br />

suborno para colocar o filho numa natação terapêutica.<br />

(BARCELLOS, 2004, p. 369)<br />

A polícia apresentada é uma polícia corrupta, <strong>de</strong>srespeitosa –<br />

trata os moradores da favela como bandidos – e vingativa, s<strong>em</strong>pre que há<br />

uma baixa entre policiais, ele voltam ao morro para revidar, não há justiça<br />

a não ser aquela que eles próprios promov<strong>em</strong> com suas armas. Quando<br />

Barcellos admite surpresa ao saber da correta atitu<strong>de</strong> da polícia na prisão<br />

<strong>de</strong> Juliano – o traficante é encontrado <strong>de</strong>sarmado <strong>em</strong> seu escon<strong>de</strong>rijo por

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