Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
35<br />
John Reed se juntou à equipe da revista, on<strong>de</strong> publicou seus po<strong>em</strong>as.<br />
Seu convívio com os muckrackers ampliou seu interesse pelos probl<strong>em</strong>as<br />
sociais e a partir daí Reed seguiu carreira jornalística, cobrindo<br />
principalmente conflitos. Suas reportagens foram relatos apaixonados,<br />
muito distantes da imparcialida<strong>de</strong> tantas vezes apregoada pelo<br />
jornalismo. Narrados <strong>em</strong> primeira pessoa, seus relatos são test<strong>em</strong>unhos<br />
vívidos <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> sentiu os acontecimentos <strong>de</strong> perto, buscou as raízes dos<br />
conflitos, conversou com as pessoas e soube ouvir suas histórias.<br />
Reed tornou-se mundialmente conhecido com Os <strong>de</strong>z dias que<br />
abalaram o mundo, relato vigoroso sobre a revolução <strong>de</strong> 1917 na Rússia,<br />
mas antes disso havia feito a cobertura da revolução mexicana <strong>de</strong> Pancho<br />
Villa e Emiliano Zapata, publicada numa série <strong>de</strong> reportagens para a<br />
Metropolitan Magazine, <strong>de</strong>pois reunidas no livro México Rebel<strong>de</strong>. Em<br />
1915, numa <strong>de</strong> suas viagens à Europa para cobrir a I Guerra Mundial,<br />
acompanhou os acontecimentos que movimentavam os países do leste<br />
europeu, narrados <strong>em</strong> A guerra dos Bálcãs.<br />
Se os relatos <strong>de</strong> conflitos feitos por Reed ajudaram a inaugurar<br />
o jornalismo mo<strong>de</strong>rno no início do século, como afirmam jornalistas e<br />
historiadores, Hiroshima, <strong>de</strong> John Hersey, ocupando uma edição inteira<br />
da revista The New Yorker, <strong>em</strong> 1946, se estabelece como um marco do<br />
jornalismo literário. Adotando a perspectiva dos seis sobreviventes que<br />
elegeu para recontar a história da tragédia que <strong>de</strong>struiu Hiroshima ao final<br />
da II Guerra, Hersey privilegia a perspectiva humana <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da<br />
frieza estatística do relato oficial: “O horror tinha nome, ida<strong>de</strong> e sexo. Ao<br />
optar por um texto simples, s<strong>em</strong> enfatizar <strong>em</strong>oções, ele <strong>de</strong>ixou fluir o<br />
relato oral <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> realmente viveu a história.” (SUZUKI JR. 2002, p.<br />
168). Hersey escolhe a <strong>de</strong>scrição minuciosa inserida na narrativa para<br />
dar conta do conteúdo jornalístico que tinha a explorar: