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Literatura e Jornalismo: Fato e ficção em Abusado e Cidade de Deus

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125<br />

A imag<strong>em</strong> do criminoso anônimo relaciona-se à escalada do<br />

tráfico <strong>de</strong> drogas e do crime organizado. Ele só vai ganhar notorieda<strong>de</strong><br />

quando for um chefe <strong>de</strong> quadrilha, o “traficante-celebrida<strong>de</strong>”. Presença<br />

acintosa e permanente no cotidiano das favelas, o traficante famoso é<br />

muitas vezes transformado <strong>em</strong> ídolo da juventu<strong>de</strong> local. Mas esta<br />

notorieda<strong>de</strong> t<strong>em</strong> também um custo alto e muitos dos bandidos que<br />

figuram nas manchetes acabam sendo mortos porque ganharam<br />

visibilida<strong>de</strong> na mídia (PENNA, 2004), a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Marcio Amaro <strong>de</strong><br />

Oliveira, mais conhecido como Marcinho VP, chefe do tráfico no morro<br />

Dona Marta e personag<strong>em</strong> principal <strong>de</strong> <strong>Abusado</strong>, <strong>de</strong> Caco Barcellos.<br />

<strong>Abusado</strong> conta, no formato romance-reportag<strong>em</strong> 62 , a história<br />

do traficante Juliano VP e traz como pano <strong>de</strong> fundo o contexto <strong>em</strong> que o<br />

personag<strong>em</strong> se situa: a favela Santa Marta e os moradores, o crescente<br />

comércio <strong>de</strong> drogas na favela, a tentativa <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pela<br />

quadrilha <strong>de</strong> Juliano, a entrada da quadrilha na organização criminosa<br />

Comando Vermelho 63 – e por extensão as rivalida<strong>de</strong>s com outras facções<br />

do tráfico <strong>de</strong> drogas no Rio <strong>de</strong> Janeiro –, as conexões e os conflitos com<br />

62 O livro <strong>de</strong> Barcellos po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma biografia. Lançado <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2003 pela<br />

editora Record, foi eleito Livro do Ano <strong>de</strong> Não-Ficção na 46ª edição do prêmio Jabuti, <strong>em</strong> 2004,<br />

promovida pela Câmara Brasileira do Livro, e também recebeu o prêmio na categoria<br />

Reportag<strong>em</strong> e Biografia.<br />

63 O Comando Vermelho (CV) surge no presídio Cândido Men<strong>de</strong>s, na Ilha Gran<strong>de</strong> (Angra dos Reis<br />

– RJ), durante o final da ditadura militar, quando os presos comuns tiveram contato com presos<br />

políticos e adquiriram táticas <strong>de</strong> guerrilha e começaram a se organizar. Durante a década <strong>de</strong><br />

1970, sob as botas do regime militar no Brasil, presos políticos e presos comuns estiveram <strong>em</strong><br />

contato naquele presídio. Os dois grupos respondiam pelo crime <strong>de</strong> assaltos a bancos e estavam<br />

enquadrados na Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional, <strong>de</strong>cretada pelo regime militar. Ao colocar os dois<br />

grupos sob a mesma lei, os militares tentavam <strong>de</strong>spolitizar os assaltos a bancos feitos por grupos<br />

<strong>de</strong> esquerda que buscavam levantar fundos para a guerrilha armada que se opunha à ditadura.<br />

De acordo com Carlos Amorim (2005), <strong>em</strong>bora não tenha havido a interferência direta dos presos<br />

políticos na formação do Comando Vermelho, os presos comuns que tiveram contato com os<br />

presos políticos passaram a adotar alguns princípios e noções das organizações clan<strong>de</strong>stinas.<br />

Data <strong>de</strong>sta época – final dos anos 1970 – o primeiro registro <strong>de</strong> um regulamento escrito pelo<br />

Comando Vermelho. Embora o presídio <strong>de</strong> Ilha Gran<strong>de</strong> tenha sido <strong>de</strong>sativado, o CV ainda hoje<br />

mantém o seu po<strong>de</strong>r nos presídios (DOWDNEY, 2003; ZALUAR, 2004; AMORIM, 2005).

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