A UTOPIA E A FORMAÇÃO URBANA DE PENEDO - UFRJ
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em 9 de dezembro de 1929, pois sua esposa, Laura, não se<br />
acostumava com a vida em Penedo. Muitos outros<br />
acompanharam os Suni nessa volta no primeiro ano.<br />
De um total de 134 pessoas, 76 voltaram para a Finlândia<br />
no primeiro ano da colônia. Desses, alguns retornaram a Penedo<br />
mais tarde, num movimento entre Brasil e Finlândia<br />
(FAGERLAN<strong>DE</strong>, 1998b).<br />
Havia problemas com relação à rigidez imposta pelos idéiais<br />
de Uuskallio, que ditava regras como o consumo vegetariano<br />
radical. Mesmo não sendo permitido o consumo de álcool e<br />
mesmo de café ou chá, muitos finlandeses sentiam falta desses<br />
produtos. Valtonen (1998) conta de que algumas pessoas bebiam<br />
café e cachaça e vinho, apesar da promessa feita a Uuskallio.<br />
Essas pessoas certamente não se adaptaram à vida comunitária,<br />
e muitos voltaram para a Finlândia. Entre os que voltaram está<br />
Sylvie Simola, que tinha chegado em 1930. Fagerlande (1999b)<br />
fala de foto de Asikainen, da despedida da Sra Simola, quando<br />
esta retorna à Finlândia (Figura 52).<br />
Ao voltarem para a Finlândia, muitos desses descontentes<br />
fizeram propaganda negativa de Penedo, inclusive em artigos de<br />
jornais. Para rebater isso, Uuskallio preparou fotografias das<br />
casas, pomares e culturas, além de documentos, para demonstrar<br />
que Penedo era um sucesso (VALTONEN, 1998).<br />
Peltoniemi (1986) mostra artigo que saiu na revista Terveys<br />
em 1931, de uma pessoa que havia estado em Penedo e,<br />
desiludida, voltara para a Finlândia, dizendo que deveria ter<br />
acontecido uma sugestão em massa para pessoas de meia idade<br />
terem vendido tudo que tinham e ido para um lugar como aquele.<br />
“ A minha sincera conviccção é que a compra de Penedo foi um<br />
engano funesto, pois nem com a minha maior vontade consigo<br />
acreditar no seu futuro”<br />
Após essa manifestação a Revista Terveys, antiga<br />
divulgadora do empreendimento, passou a ter cuidado em<br />
divulgar assuntos sobre Penedo, preocupada com o que<br />
acontecia na colônia. Jouskari (apud FAGERLAN<strong>DE</strong>, 1998a)<br />
conta que muitos em Penedo achavam que os problemas<br />
existentes eram uma provação divina, e que seria necessário<br />
sofrimento, para se alcançar os objetivos. Dessa maneira,<br />
justificavam-se os problemas e criavam-se condições de<br />
permanecer ali.<br />
As dificuldades financeiras da colônia, onde o dinheiro era<br />
escasso, fez com que mesmo quem pretendesse ficar em Penedo<br />
tivesse dificuldades. Eila Ampula (1997) fala que seu pai, Lehtola,<br />
pediu a Uuskallio para arranjar emprego para ela, para que<br />
aprendesse português e pudesse ganhar algum dinheiro, e então<br />
ela foi trabalhar no Rio de Janeiro, como empregada doméstica.<br />
Ela conta que em uma de suas viagens, ao pretender voltar para<br />
casa em 1932, conseguiu retornar no último trem antes de eclodir<br />
a Revolução Constitucionalista em São Paulo, pouco antes das<br />
comunicações serem interrompidas.<br />
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