A UTOPIA E A FORMAÇÃO URBANA DE PENEDO - UFRJ
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fragmentar a ordem existente, criando uma nova, substituindo o<br />
poder por algo diferente. Dessa maneira<br />
[...] todas as utopias tem a ambigüidade de pretender ser<br />
realizáveis, mas de ser, ao mesmo tempo, obras do imaginário, do<br />
impossível (RICOEUR, 1986, p.490).<br />
Ricoeur ainda cita Mumford (RICOEUR, 1986), para quem<br />
existiriam somente dois tipos de utopias, as de escape e as de<br />
programas, que querem ser realizadas. Assim, as utopias de<br />
escape seriam basicamente as da literatura, e as demais seriam<br />
aquelas que se tornariam experiências concretas, sendo<br />
implantadas como veremos depois.<br />
Em seu dicionário, Merlin e Choay (2005) mostram que o<br />
termo utopia permanece presente na sociedade até os dias de<br />
hoje, sendo utilizada em diversos campos, como literatura,<br />
história, urbanismo. O dicionário das utopias (RIOT-SARCEY;<br />
BOUCHET e PICON, 2006) mostra que esse uso é ainda mais<br />
amplo, incluindo cinema, teatro, dança, religião, artes plásticas e<br />
até internet. Picon (2006, p.251) diz que “como as religiões, as<br />
utopias tem necessidade de lugares e dispositivos espaciais para<br />
reforçar a consistência de suas mensagens.<br />
A utopia é basicamente uma criação do ocidente, e diversos<br />
autores seguiram o modelo de More através dos séculos. Marx,<br />
mesmo reconhecendo o valor dessa literatura e dos projetos<br />
chamados de utópicos, é o primeiro a denunciar o que ele chama<br />
de socialismo utópico, pelo irrealismo de certas propostas. Ele os<br />
considerava mais por seu valor crítico do que por serem projetos<br />
de mudança da sociedade (CHOAY, 2005).<br />
Para Mannheim (1985) cada momento histórico tem sua<br />
utopia possível, e dessa maneira elas vão se sucedendo, de<br />
acordo com cada período. O desenvolvimento das utopias foi<br />
muito importante dentro do processo de criação do que<br />
chamamos hoje de urbanismo.<br />
A idéia da utopia antecede a criação do nome, que somente<br />
surge no século XVI, fazendo parte da tradição das sociedades<br />
desde a antiguidade clássica (HARVEY, 2000). Dessa maneira,<br />
More estaria somente criando seu modelo renascentista de<br />
utopia, que acabaria dando nome e projeção a essa corrente de<br />
pensamento, presente desde muito tempo na história.<br />
2.2.1 <strong>UTOPIA</strong>S ANTES <strong>DE</strong> MORE<br />
Mumford (2004) diz que desde que as cidades começaram<br />
a existir, na antiguidade, elas se revelaram não somente como<br />
uma maneira de expressar concretamente o poder secular e<br />
sagrado, mas também como uma maneira de representar o<br />
cosmo, de trazer o céu à terra. Assim a utopia sempre estaria<br />
presente nos ideais de formação das cidades. Antes mesmo da<br />
criação do conceito por More, a idéia de uma cidade perfeita já<br />
existiria.<br />
A cidade se revelou não simplesmente um meio de expressar<br />
em termos concretos a ampliação do poder sagrado e secular,<br />
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