O conceito de Liberdade de Imprensa em uma Democracia Moderna
O conceito de Liberdade de Imprensa em uma Democracia Moderna
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liberal que combinava liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão com igualda<strong>de</strong> política – ambas indispensáveis<br />
a um pensamento realmente <strong>de</strong>mocrático.<br />
Observe-se, como o faz Gomes (2008), qu<strong>em</strong> n<strong>em</strong> tudo são perdas. A esfera pública<br />
midiática foi capaz <strong>de</strong> gerar <strong>uma</strong> visibilida<strong>de</strong> social para questões políticas inimaginável<br />
àquela esfera pública do século XVIII, tão apegada a <strong>uma</strong> racionalida<strong>de</strong> argumentativa, tão<br />
<strong>de</strong>spreocupada com a exclusão <strong>de</strong> analfabetos, mulheres, escravos, negros, trabalhadores etc.<br />
(quase todos que não foss<strong>em</strong> a ascen<strong>de</strong>nte burguesia). Pon<strong>de</strong>ra-se isto para que não se caia<br />
aqui no mesmo erro <strong>de</strong> Habermas, lançando mão <strong>de</strong> um inventário <strong>de</strong> perdas acerca da<br />
Comunicação Social e da esfera pública. Isto porque foi o século XX que viu a ampliação da<br />
cidadania e das idéias <strong>de</strong>mocráticas ganhar a<strong>de</strong>ptos como nunca antes na história política<br />
mo<strong>de</strong>rna.<br />
Assim, retomando o raciocínio já exposto no primeiro capítulo, a mudança estrutural<br />
da esfera pública não <strong>de</strong>ve necessariamente significar sua <strong>de</strong>cadência ou sua incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
integrar <strong>de</strong>mocraticamente socieda<strong>de</strong> civil e Estado; no entanto, a concentração dos meios na<br />
mão <strong>de</strong> poucos agentes (imbricados ou não com o aparato burocrático) - seja por motivos <strong>de</strong><br />
um mimetismo <strong>em</strong> relação à própria concentração da estrutura capitalista, dada a necessida<strong>de</strong><br />
intensiva <strong>em</strong> capital do setor das Comunicações; seja pela própria divisão (especialização) do<br />
trabalho, que reserva aos agentes da mídia (jornalistas, <strong>em</strong> especial) um papel central no<br />
<strong>de</strong>bate público - acaba por comprometer não só a igualda<strong>de</strong> política, mas simplesmente<br />
privilegia alguns (grupos ou idéias) <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros, tornando a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
expressão <strong>de</strong> uns maior do que a <strong>de</strong> outros. Vale mencionar que este estado <strong>de</strong> coisas acaba<br />
por geral um ―mal estar‖ para a teoria <strong>de</strong>mocrática e também para os estudos <strong>em</strong><br />
Comunicação.<br />
Miguel (2002b), Sá (2005) e Schulz (2006) têm discutido a questão <strong>de</strong> como os meios<br />
<strong>de</strong> comunicação têm se tornado, nas <strong>de</strong>mocracias cont<strong>em</strong>porâneas, o ―lugar‖ central do<br />
<strong>em</strong>bate e disputa política, seqüestrando assim a função outrora do Parlamento. Segundo os<br />
autores, trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> crise da representação política, tendo fatores diversos, tais como: o<br />
enfraquecimento dos partidos, a excessiva personalização dos agentes políticos causada pela<br />
visibilida<strong>de</strong> midiática e a própria complexificação social experimentada pelas socieda<strong>de</strong>s<br />
mo<strong>de</strong>rnas – o que torna qualquer programa partidário impossibilitado <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r tais<br />
<strong>de</strong>mandas (por vezes contraditórias), tornando tais programas s<strong>em</strong>pre amplos e vagos,<br />
diminuindo, assim, a qualida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>bate político.<br />
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