Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG
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estava cuidando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que chegara à cida<strong>de</strong>. Esta variolói<strong>de</strong> era tão benigna que os sinais das<br />
pústulas quase não apareceriam <strong>de</strong>pois do paciente estar completamente curado. 354<br />
Quase um mês <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter noticiado este evento, o mesmo jornal publicaria outra<br />
matéria ainda tentando aplacar, e também agora esclarecer, os boatos sobre a epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />
varíola que, para confirmar os temores da população, haviam se concretizado. O Dr. Jesuíno<br />
Felicíssimo havia mesmo contaminado mais duas pessoas e que, felizmente, todos passavam<br />
bem e estavam todos curados. A mesma sorte não teve uma quarta vítima que acabou<br />
falecendo por causa da doença, o que aparentemente encerrava o “ciclo da terrível doença.” O<br />
jornalista, buscando explicar a “grita alarmante” levantada pela população, afirmou que as<br />
epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> influenza e sarampo que afligia as pessoas eram as gran<strong>de</strong>s responsáveis do<br />
medo. O “vulgo”, ou melhor, as pessoas comuns e simples, confundiam freqüentemente os<br />
sintomas das duas doenças com os provocados pelo primeiro estágio dos da varíola. A todo<br />
esse temor da população se somava a “lúgubre recordação” que a penúltima epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />
varíola havia <strong>de</strong>ixado na memória das pessoas, quando, por volta <strong>de</strong> 1874, havia ceifado<br />
centenas <strong>de</strong> vidas em Ouro Preto e na vizinha cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariana. 355 Cabral afirma que além<br />
da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> 1874 outras assolaram a antiga capital do estado em 1876 e 1888, sendo<br />
necessário, além da enfermaria do Hospital da Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia, a abertura <strong>de</strong> uma<br />
enfermaria especial na Santa Casa, a construção <strong>de</strong> um lazareto no antigo Jardim Botânico e o<br />
aluguel do prédio <strong>de</strong> Antonio Vieira <strong>de</strong> Carvalho no Alto das Cabeças para afastar os doentes<br />
do meio da população saudável. 356<br />
Todo esse evento relatado acima não seria possível acontecer antes da construção do<br />
ramal ferroviário, <strong>de</strong>vido a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incubação da varíola. A forma <strong>de</strong> contágio da<br />
varíola se dá, na maioria das vezes, pelo contato através das vias respiratórias, com gotículas<br />
<strong>de</strong> saliva que contenham os vírus que ficam em suspensão após serem eliminadas pela mucosa<br />
oral, nasal ou faríngea das pessoas com a doença. O contágio por contato com as crostas das<br />
feridas infectadas ou pelo manuseio <strong>de</strong> roupas, lençóis e cobertores <strong>de</strong> pessoas contaminadas<br />
também po<strong>de</strong> acontecer só que com uma menor freqüência. O período médio <strong>de</strong> incubação é<br />
354 HPEMG – O Movimento, Ouro Preto, ano III, n° 259, quinta-feira, 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1891.<br />
355 HPEMG – O Movimento, Ouro Preto, ano III, n° 272, sexta-feira, 04 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1891.<br />
356 CABRAL, H. B. da S. Ouro Preto. Belo Horizonte: s/ed., 1969, pp. 147, 228. Em 1888 Cabral afirma que a<br />
varíola foi tão virulenta que o presi<strong>de</strong>nte João Batista dos Santos, o Barão <strong>de</strong> Ibituruna, “médico notável” “saiu<br />
pessoalmente em visita a doentes da terrível moléstia, sem olhar posição social ou cor política, a todos tratando<br />
com paternal carinho.” A seu pedido foi aberta uma enfermaria especial anexa ao Hospital da Santa Casa <strong>de</strong><br />
Misericórdia para tratamento dos variolosos, ficando esta a seus cuidados, “dirigindo ele, zelosa e ativamente,<br />
todo o trabalho e tratamento, pessoalmente, <strong>de</strong> todos os doentes com proficiência e carinho.” Durante a epi<strong>de</strong>mia<br />
o presi<strong>de</strong>nte tratou <strong>de</strong> treze doentes, <strong>de</strong>ntre os quais cinco vieram a falecer. Este evento foi citado para ressaltar a<br />
gravida<strong>de</strong> da situação, sendo mobilizado até o presi<strong>de</strong>nte do estado para o tratamento dos doentes na tentativa <strong>de</strong><br />
se controlar a epi<strong>de</strong>mia.