Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG
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presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>scer na estação mais próxima, a <strong>de</strong> Tripui, “situado à beira da cida<strong>de</strong>”.<br />
Poucas pessoas, cerca <strong>de</strong> “vinte e tantos”, esperavam nesta estação, sendo que “cinqüenta e<br />
tantos cavalheiros” haviam partido mais cedo com um trem para a estação <strong>de</strong> José Correia<br />
com uma banda <strong>de</strong> música para saudar a passagem do presi<strong>de</strong>nte. Todas as pessoas que<br />
esperavam em Tripui estavam lá porque, como o cronista, haviam chegado atrasadas e<br />
perdido o trem da primeira recepção. A expectativa era muito gran<strong>de</strong> para a chegada <strong>de</strong> Horta<br />
Barbosa, sendo a curiosida<strong>de</strong> do cronista atiçada pelos “entusiasmos <strong>de</strong> uns e os<br />
<strong>de</strong>sfalecimentos <strong>de</strong> outros”, ele resolveu ir conferir pessoalmente a “alvorada do novo astro”,<br />
para avaliar se todo o afã era justificável e <strong>de</strong>pois contá-la a “Deus e a todo mundo”. O<br />
cronista estava cheio <strong>de</strong> “contentamento e <strong>de</strong> cabelos brancos”, saindo da rua do Tira<strong>de</strong>ntes<br />
com <strong>de</strong>stino ao Tripui às 11 horas da manhã, chegando pouco tempo <strong>de</strong>pois na mesma<br />
situação <strong>de</strong> espírito, só que “coberto <strong>de</strong> pó e banhado <strong>de</strong> sol”. Enquanto aguardavam a<br />
chegada do trem e, “para não ficarem inteiramente <strong>de</strong>socupados”, os que estavam na estação<br />
do Tripui iam se “refazendo com craknels e intoxicando com xaropadas <strong>de</strong> Fritz_Mack &<br />
Comp.”, o único “sortimento do callitau” disponível na estação.<br />
O cronista afirmava que “havia uma gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong>”. Mesmo se Horta Barbosa<br />
“não nos trouxesse valiosos troféus das conquistas da civilização”, era o “soberano dominador<br />
da indústria mo<strong>de</strong>rna” que trazia o presi<strong>de</strong>nte; era a locomotiva que estava chegando às portas<br />
<strong>de</strong> Ouro Preto e esse era um fato <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a civilização. Tradicionalmente,<br />
quando alguém importante estava chegando à cida<strong>de</strong> a sua tropa acendia uma fogueira para<br />
anunciar que estava nas proximida<strong>de</strong>s e para que a comissão <strong>de</strong> boas vindas se preparasse.<br />
Porém, o “silvo da locomotiva” substituiu a fogueira e quando o trem estava chegando a<br />
cida<strong>de</strong> ela começava a apitar.<br />
Nesse dia aconteceu um evento interessante. A poucos metros do local on<strong>de</strong> a<br />
multidão aguardava a chegada do novo presi<strong>de</strong>nte da província estava um grupo <strong>de</strong><br />
trabalhadores. Um <strong>de</strong>stes, percebendo a ansieda<strong>de</strong> das pessoas “<strong>de</strong>u duas vezes um estri<strong>de</strong>nte<br />
assobio, imitando perfeitamente o silvo da locomotiva”, provocando a ilusão no espírito dos<br />
que aguardavam da chegada do trem. Em reação, ou “vitimas da zombaria”, as pessoas<br />
começaram a esticar seus pescoços em direção ao fundo do vale “procurando baldadamente a<br />
nuvem <strong>de</strong> vapor evolado.” Foi apenas às três horas e meia da tar<strong>de</strong> que a “garganta dos<br />
morros” vomitou a locomotiva, “confundindo a nota aguda do seu estri<strong>de</strong>nte sibilo com as<br />
sonoras vibrações da música, que vinha no comboio presi<strong>de</strong>ncial.” Logo que o novo<br />
presi<strong>de</strong>nte chegou ao ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sembarque toda a multidão foi cumprimentá-lo. Horta<br />
Barbosa <strong>de</strong>sembarcou e com a “fórmula vulgar da saudação”, distribuía “sem