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Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

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142<br />

Álvaro Cândido travava conversa com um grupo <strong>de</strong> rapazes contando a sua idéia <strong>de</strong><br />

virar um autor <strong>de</strong> peças dramáticas quando disse que a cida<strong>de</strong> estava “paralisada à espera <strong>de</strong><br />

um trem que não chega, nem chegará nunca mais!” Ouvindo isso um “homenzinho doente”<br />

que estava ao lado do grupo perguntou “com pavor”: “Como Não chegará nunca mais” E,<br />

recebendo a resposta do rapaz já sem muita paciência escuta: “Não chegará nunca mais,<br />

repito! Descarrilou, espatifou-se, incendiou-se, levou-o o diabo! Que importa Que temos nós<br />

com o trem Que nos po<strong>de</strong> esse trem trazer <strong>de</strong> bom Notícias da revolta Que temos nós com<br />

a revolta Meus senhores! A vida é breve!” 374<br />

Mas o trem não chegava, aumentando a sofreguidão das pessoas que aguardavam<br />

ansiosamente a sua chegada para ler as últimas notícias publicadas nos jornais cariocas. As<br />

“cabeças ávidas” se inclinavam com seus “olhos ansiosos” tentando furar as trevas, esperando<br />

ver ao longe o brilho do farol da locomotiva. As pessoas viam apenas os trilhos brilharem pela<br />

luz dos lampiões parecendo “cobras <strong>de</strong> aço”. Decorrida uma hora, ouviu-se ao longe o “apito<br />

estri<strong>de</strong>nte” da locomotiva que vinha provocar “um suspiro <strong>de</strong> alívio”. Só que “Houve um<br />

<strong>de</strong>sapontamento geral, quando se soube que o expresso não trazia os jornais do dia.” Logo a<br />

notícia começou a se espalhar, e vários “boatos apavorantes” iam se formando, provocando a<br />

alegria <strong>de</strong> alguns e a raiva <strong>de</strong> outros. Um <strong>de</strong>sses foi o comendador Romaguera, “homem<br />

maduro, <strong>de</strong> barba hirsuta, corpo <strong>de</strong> Hércules, voz <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>”, que começou a vociferar<br />

pela estação “Oh! aí vêm já os boatos! Aí vêm já os boatos! Pois então só porque não chegam<br />

os jornais, já os senhores começam a fantasiar vitórias <strong>de</strong>sses piratas”, e uma discussão se<br />

iniciou com pessoas gritando <strong>de</strong> todos os lados e que se precipitaram pela cida<strong>de</strong> afora. “E a<br />

estação <strong>de</strong>serta, adormeceu, às escuras, naquela profunda noite sem estrelas, cheia <strong>de</strong><br />

nuvens...” 375<br />

374 I<strong>de</strong>m., ibi<strong>de</strong>m, p. 03.<br />

375 I<strong>de</strong>m., ibi<strong>de</strong>m, pp. 04-5. Ouro Preto possuía uma agência <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> jornais fundada em 1885 por<br />

Fabrício Andra<strong>de</strong> e que funcionava no Hotel Monteiro. Dentre os títulos que uma pessoa po<strong>de</strong>ria escolher para<br />

ler o anuncio publicado no O Movimento <strong>de</strong>stacam-se “O País, Diário do Comércio, Gazeta, Diário <strong>de</strong> Notícias,<br />

Estação (jornal <strong>de</strong> modas), O Brasil, Correio da Europa etc. etc. e todos os jornais do mundo”. HPEMG – O<br />

Movimento, Ouro Preto, ano III, n° 157, 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1891. JOP 64-67. Outra agência on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>ria<br />

comprar e assinar regularmente jornais do Rio <strong>de</strong> Janeiro era <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ferreira <strong>de</strong> Mello e Comp. e,<br />

acredito, funcionava no mesmo estabelecimento que a Casa das Especialida<strong>de</strong>s, a Agência Geral <strong>de</strong> Ouro Preto.<br />

Como atrativo para estimular pessoas a comprarem regularmente jornais ela distribuía prêmios no mês <strong>de</strong> julho<br />

para as mais assíduas e aos assinantes. HPEMG – O Jornal <strong>de</strong> Minas, Ouro Preto, ano XIII, n° 49, segunda-feira,<br />

07 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1890, microfilme 064. O Jornal <strong>de</strong> Minas, Ouro Preto, ano XIII, n° 87, terça-feira, 22 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1890, microfilme 064. A Maison Paul <strong>de</strong> Roquemaure além <strong>de</strong> ter a “Especialida<strong>de</strong> em artigos <strong>de</strong> luxo e<br />

<strong>de</strong>voção: quadros, imagens, oratórios, étagéres, porta-relógios, etc., etc.”, também se encarregava <strong>de</strong> fazer<br />

assinatura <strong>de</strong> qualquer jornal <strong>de</strong> França e do Brasil; Leonel Alves da Silva possuía uma agência <strong>de</strong> jornais na rua<br />

do Boba<strong>de</strong>la; e Francisco Augusto Deslan<strong>de</strong>s era agente <strong>de</strong> jornais, livros e drogas e tinha sua loja na rua do<br />

Paraná. OZZORI, M. Almanack administrativo, mercantil, industria, scientifico e litterario do Município <strong>de</strong><br />

Ouro Preto. Ouro Preto: Typographia d’A Or<strong>de</strong>m, ano I, 1890. Belo Horizonte: Mazza Edições, 1990, pp. 77, 84,<br />

4ª capa.

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