29.01.2015 Views

Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

71<br />

imprensa não <strong>de</strong>ixa que esta lhe repita os recados.” Das obras realizadas pelo presi<strong>de</strong>nte da<br />

Câmara, foram <strong>de</strong>stacadas a limpeza das ruas, a substituição dos chafarizes <strong>de</strong> pedra das<br />

freguesias <strong>de</strong> Antonio Dias e Ouro Preto, os “trambolhos <strong>de</strong> pedra e cal <strong>de</strong> arquitetura<br />

raquítica que atravancavam as ruas”, por chafarizes <strong>de</strong> ferro que prestavam com mais<br />

<strong>de</strong>cência ao uso das pessoas. Mas o gran<strong>de</strong> benefício <strong>de</strong>stes chafarizes não era puramente<br />

estético e sim higiênico, já que vedavam “a lavagem <strong>de</strong> legumes e outras hortaliças cujos<br />

resíduos em estado <strong>de</strong> putrefação muito prejudicavam a saú<strong>de</strong> pública.” O autor também<br />

reclamava contra a atuação <strong>de</strong> vândalos, alguns “indivíduos malfazejos”, na <strong>de</strong>predação <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>stes chafarizes, fato que lhe provocava indignação e pedia “encarecidamente” que a<br />

polícia esten<strong>de</strong>sse sobre eles o seu “manto protetor”. As razões que motivavam as ações<br />

<strong>de</strong>sses vândalos foram dadas pelo próprio autor: “talvez no intuito <strong>de</strong> arrefecer os nobres<br />

intuitos da administração municipal.” Essa consi<strong>de</strong>ração me leva a crer que as pessoas que<br />

moravam na região abastecida pelo chafariz e que o utilizavam para coletar água, lavar roupa,<br />

utensílios domésticos, a comida ficaram prejudicadas com o novo e bonito chafariz <strong>de</strong> ferro e<br />

<strong>de</strong>scarregaram o seu ódio sobre o seu opressor. 172<br />

Um mês <strong>de</strong>pois, o mesmo jornal criticaria a Câmara não por <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> cumprir com<br />

suas obrigações em relação à cida<strong>de</strong>, mas por permitir a construção <strong>de</strong> uma casa próxima à<br />

ponte do Funil. O <strong>texto</strong> é um diálogo que Kmello jurava ser um dos muitos que ouvira pelas<br />

ruas da cida<strong>de</strong>: “Isto que fica escrito eu ouvi com estes que a terra <strong>de</strong>ntro do mais longo prazo<br />

possível há <strong>de</strong> comer.” Ele tratava da discussão entre um vereador e um morador <strong>de</strong>scrente <strong>de</strong><br />

Ouro Preto. O primeiro <strong>de</strong>fendia a “<strong>de</strong>mocrática corporação” argumentando que ela estava<br />

“fazendo alguma coisa” pela cida<strong>de</strong>, diferentemente das gestões anteriores, o <strong>de</strong>scrente emite<br />

um “Sim” e respon<strong>de</strong> que esse era um modo <strong>de</strong> “enxergar as coisas”; e prosseguia:<br />

Si a Câmara quisesse prestar reais serviços a capital não consentiria que em pleno<br />

século XIX, quando o silêncio <strong>de</strong> nossas montanhas está prestes a ser quebrado pelo<br />

silvo do progresso, fosse construída a casa da rua Chispiniana a guisa <strong>de</strong> treis chalet<br />

na entrada da cida<strong>de</strong>. 173<br />

O <strong>de</strong>scrente continuava enumerando três “verda<strong>de</strong>s” que a construção revelava. A<br />

primeira seria o péssimo gosto do construtor; a segunda o “pouco escrúpulo e capacida<strong>de</strong> do<br />

alinhador”; e a terceira, mas não menos importante, era a “tolerância criminosa” da Câmara<br />

em consentir com a construção <strong>de</strong> “aquele grotesco trambolho afrontando o bom gosto.” O<br />

vereador <strong>de</strong>scordou dizendo que o chalets iriam ficar lindos e eram <strong>de</strong> “gosto suiss”.<br />

172 HPEMG – O Diabinho, Ouro Preto, ano IV, n° 08, 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1887. JOP 75, JA 01.<br />

173 HPEMG – O Diabinho, Ouro Preto, ano IV, n° 07, 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1887. JOP 75, JA 01.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!