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Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

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144<br />

nome Vidigal. Romaguera ficou furioso e <strong>de</strong>pois disse ao rapaz: “__ Acha então que é uma<br />

patranha Pois vá a estação, Sr. Sabe-tudo! Vá a estação, e diga-me <strong>de</strong>pois se é uma<br />

patranha!” A central do telégrafo ficava na estação, o chefe do tráfego recebera um telegrama<br />

circular do diretor comunicando a rendição dos revoltosos e or<strong>de</strong>nando que hasteasse a<br />

ban<strong>de</strong>ira em comemoração. 379<br />

Não era apenas pelas notícias da Revolta da Armada que os jornais traziam que as<br />

pessoas se interessavam. Os mais ricos da cida<strong>de</strong> tinham acesso aos últimos costumes<br />

adotados na Europa e no Rio <strong>de</strong> Janeiro, não restando muito do “avito gênio colonial”. “A<br />

facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicações entre São Bernardo e o Rio <strong>de</strong> Janeiro, a estrada <strong>de</strong> ferro, a<br />

imprensa, o teatro, os hotéis estabelecem ali nova corrente <strong>de</strong> idéias, rarida<strong>de</strong>s peregrinas,<br />

forças <strong>de</strong> audaz iniciativa, que ainda hão <strong>de</strong> dar gran<strong>de</strong>s resultados.” O narrador chama a<br />

atenção para o papel dos hotéis, importantes “instrumentos <strong>de</strong> progresso”, com sua população<br />

transitória proveniente <strong>de</strong> vários locais da fe<strong>de</strong>ração. 380<br />

O cotidiano <strong>de</strong> Ouro Preto era retratado pela fictícia São Bernardo <strong>de</strong> Bilac,<br />

dominada pelos “costumes do interior”, ambiente impregnado <strong>de</strong> “memórias e legendas” <strong>de</strong><br />

um passado cheio <strong>de</strong> esplendor. As serras, “ásperas e sombrias”, pareciam proteger a cida<strong>de</strong><br />

contra as invasões do “espírito hodierno” muito prejudicial à alma do “povo simples” com<br />

seus velhos hábitos e crenças. Pelas ruas tortas “com péssimo calçamento” e pela praia<br />

extensa ao lado do ramal ferroviário, ainda era possível ouvir o chiado dos carros <strong>de</strong> bois com<br />

suas “cantilena monótona e agreste”. Durante as procissões e festas religiosas um “sincero<br />

fervor religioso” fornece uma nova vida à monotonia da cida<strong>de</strong> com as pessoas saindo em<br />

cortejo pelas ruas com a cabeça coberta <strong>de</strong> cinza e os pés <strong>de</strong>scalços “chorando os seus<br />

pecados...”. As igrejas estavam ali com seus domos e portais queimados <strong>de</strong> sol para<br />

“representar a vitória do dogma eterno sobre as mesquinhas contingências humanas...”,<br />

ajudando a perpetuar os costumes da população. 381<br />

É nesse meio, e sob tais impressões, que vive o povo – o que se chama propriamente<br />

povo, a maioria sofredora e militante, que luta para conquistar o pão quotidiano, e<br />

tenazmente disputa à natureza e ao <strong>de</strong>stino o seu lugar no mundo. Esse, resiste às<br />

influências morais da época e mantém-se intacto, com as suas idéias e usos <strong>de</strong> há<br />

cem anos. 382<br />

379 I<strong>de</strong>m., ibi<strong>de</strong>m.<br />

380 I<strong>de</strong>m., ibi<strong>de</strong>m, p. 7.<br />

381 I<strong>de</strong>m., ibi<strong>de</strong>m, p. 6-7.<br />

382 I<strong>de</strong>m., ibi<strong>de</strong>m, p. 7.

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