29.01.2015 Views

Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

75<br />

As ruas continuam e continuarão esburacadas, lamacentas e lixosas, cobertas <strong>de</strong><br />

tufos <strong>de</strong> ervas, atravancadas <strong>de</strong> pedras soltas, e como pasto <strong>de</strong> porcos, cabritos,<br />

vacas e galinhas.<br />

É <strong>de</strong>mais! Po<strong>de</strong>-se sem exageração afirmar não há cida<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>sasseiada que a<br />

legendária capital <strong>de</strong> Minas. Nem temos esperança <strong>de</strong> que venha a melhorar, porque<br />

a inação municipal é mal que se transmite <strong>de</strong> edilida<strong>de</strong> para edilida<strong>de</strong>. Todos já<br />

estamos afeitos à negligencia, e não há reação possível contra o emperramento<br />

inconsciente.<br />

Continuaremos a consi<strong>de</strong>rar Ouro Preto, não como a capital <strong>de</strong> uma das primeiras<br />

províncias do império, mas como um arrebal<strong>de</strong> do sertão. 182<br />

As notícias sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da epi<strong>de</strong>mia nem sempre eram tão leves, sendo<br />

às vezes aterradora como a transcrição <strong>de</strong> um telegrama vindo <strong>de</strong> Buenos Aires, dizendo que<br />

eram tantas as mortes que não existiam pessoas suficientes trabalhando para fazer o seu<br />

sepultamento. 183 Os números <strong>de</strong> mortos só na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mendonza ultrapassavam os dois mil.<br />

Mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil haviam <strong>de</strong>ixado suas casas para fugirem da epi<strong>de</strong>mia indo para outras partes<br />

da Argentina. O cólera não poupou nem os ca<strong>de</strong>tes e os oficiais do regimento <strong>de</strong> cavalaria<br />

aquartelados na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chacarita. 184 Nem o governador da província <strong>de</strong> Córdoba e alguns<br />

alunos da escola militar <strong>de</strong> Palermo se salvaram. 185 O jornal atacava frontalmente a Câmara<br />

com críticas e fazia ameaças como a possibilida<strong>de</strong> do cólera chegar até Ouro Preto:<br />

Asseio da capital. – É por <strong>de</strong>mais vergonhoso o estado <strong>de</strong> imundície da rua das<br />

Flores.<br />

Lixo aos montões, ervaçal e esterqueira em gran<strong>de</strong> abundância, galinhas mortas a<br />

rodo, eis as flores que ali se encontram.<br />

Aquela rua cabia melhor o nome <strong>de</strong> rua da Câmara Municipal.<br />

Se o cólera chegar até cá, há <strong>de</strong> se recrear bastante naquele formoso jardim. 186<br />

A Câmara legislava sobre o asseio da cida<strong>de</strong>, como a postura que proibia as<br />

“estrumeiras nas ruas e praças”, impondo uma multa <strong>de</strong> 600 réis aos infratores. O gran<strong>de</strong><br />

problema era que os fiscais não faziam valer essa <strong>de</strong>liberação e nem as muitas outras. No dia<br />

11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro “bem perto da Câmara Municipal, e quase em frente ao palácio do governo”,<br />

havia uma quantida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> esterco, um “monturo monumental” e o fiscal não<br />

fazia nada; o jornal especulava que era “ali conservado como um padrão <strong>de</strong> glória do sr.<br />

fiscal.” O mesmo fiscal ao passar pela rua do Tira<strong>de</strong>ntes, em frente ao lugar on<strong>de</strong> se pretendia<br />

construir um mercadinho, ficava “mudo e estupefato” diante <strong>de</strong> um monte <strong>de</strong> entulho <strong>de</strong><br />

pedras, ma<strong>de</strong>iras velhas e lixo que ali existia, “como o peregrino ante as ruínas da babilônia,<br />

182 HPEMG – A União, Ouro Preto, ano I, n° 32, 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1886. JOP 36.<br />

183 HPEMG – A União, Ouro Preto, ano I, n° 34, 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1886. JOP 36.<br />

184 HPEMG – A União, Ouro Preto, ano I, n° 35, 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1886. JOP 36.<br />

185 HPEMG – A União, Ouro Preto, ano I, n° 36, 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1886. JOP 36.<br />

186 HPEMG – A União, Ouro Preto, ano I, n° 31, 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1886. JOP 36.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!