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Ler texto - Escola de Arquitetura - UFMG

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16<br />

das principais cida<strong>de</strong>s inglesas, Liverpool e Manchester, cida<strong>de</strong>s participantes da produção<br />

têxtil da Inglaterra, e dizendo não ter palavras para <strong>de</strong>screver o que via, assim discorreu:<br />

Não há palavras que possam dar uma idéia a<strong>de</strong>quada da grandiosida<strong>de</strong> (não posso<br />

usar palavra menor) <strong>de</strong> nosso progresso. A princípio era relativamente lento; mas<br />

logo sentimos que estávamos em marcha, e então todos aqueles para quem o veículo<br />

era novo <strong>de</strong>vem haver-se dado conta <strong>de</strong> que a aplicação da força locomotora estava<br />

estabelecendo uma nova era no estado da socieda<strong>de</strong>, cujos resultados <strong>de</strong>finitivos é<br />

impossível colocar-se. 25<br />

O reverendo Edward Stanley não sabia <strong>de</strong>screver com precisão os sentimentos que<br />

experimentou naquele momento. Ao andar <strong>de</strong> trem, po<strong>de</strong>ndo ser essa a sua primeira vez, ele<br />

percebeu o mundo <strong>de</strong> uma forma nunca antes conseguida. A velocida<strong>de</strong> atingida pelo trem<br />

possibilitou uma sinestesia nunca antes alcançada pelo reverendo, bem como pela gran<strong>de</strong><br />

maioria das 400 mil pessoas que foram ao local assistir à inauguração da estação. Mas não<br />

entrarei nesta análise sobre as mudanças <strong>de</strong> caráter sensorial possibilitadas pela ferrovia. 26<br />

Para o propósito que estabeleci aqui, o interessante do discurso do reverendo Edward Stanley<br />

é a constatação <strong>de</strong> que, após o veículo entrar em movimento constante, atingindo a velocida<strong>de</strong><br />

média e constante para o percurso, as pessoas que experimentavam a viajem pela primeira vez<br />

estavam dando conta <strong>de</strong> que “[...] a aplicação da força locomotora estava estabelecendo uma<br />

nova era no estado da socieda<strong>de</strong> [...]”, sendo impossível <strong>de</strong>screver com palavras as sensações<br />

e experiências possibilitadas pelo <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Possivelmente, era essa a sensibilida<strong>de</strong> vivenciada pela maioria dos países que<br />

compunham o mundo oci<strong>de</strong>ntal, mais especificamente a dos países industrializados ou dos<br />

que estavam em processo. O capitalismo possui uma característica que nenhum sistema<br />

vivenciado-criado/criado-vivenciado pelo homem jamais conseguiu <strong>de</strong>senvolver: a imensa e<br />

intensa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformar a natureza. O <strong>de</strong>senvolvimento rumo a um mundo melhor<br />

“[...] parecia tão patente que a mudança significava avanço, que a história [...] parecia<br />

sinônimo <strong>de</strong> progresso. O progresso era medido pela curva sempre ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tudo que<br />

pu<strong>de</strong>sse ser medido, ou que os homens escolhessem medir. O aperfeiçoamento contínuo,<br />

mesmo das coisas que obviamente ainda precisavam ser aperfeiçoadas, era garantido pela<br />

experiência histórica.” 27<br />

25 STANLEY, Edward. An accurate <strong>de</strong>scription of the Liverpool and Manchester Railway. In: Blackwood<br />

Magazine, Liverpool, 1830. Apud.: HARDMAN, F. F. Ibi<strong>de</strong>m.<br />

26 Para uma análise mais acurada sobre o impacto das estradas <strong>de</strong> ferro em âmbito sensorial ver HARDMAN. F.<br />

F. Op. cit., pp. 23-48. Mais especificamente o primeiro capítulo: “Chuva, vapor, velocida<strong>de</strong>: Projeções à sombra<br />

do mecanismo”.<br />

27 HOBSBAWN, E. J. A era dos impérios, 1875-1914. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1988, pp.46-7.

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