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— O que quer que aquela caixa contenha, deve ser de enorme valor.<br />
— To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tem grande apego aos pertences pessoais. E creio que em<br />
nenhuma outra situação isso é mais verdadeiro <strong>do</strong> que na nossa, em que a<br />
maioria de nós perdeu tu<strong>do</strong>.<br />
— Mas não fazemos tanto segre<strong>do</strong> assim, faz? Por que será que o Sr. Hardie<br />
não nos diz claramente o que há dentro da caixa? Talvez quan<strong>do</strong> as coisas se<br />
acal<strong>mar</strong>em alguém pergunte diretamente a ele em vez de tentar arrancar seu<br />
segre<strong>do</strong> à força.<br />
— Este não é mesmo o momento certo! — falei. — Além disso, ele está<br />
acostuma<strong>do</strong> a se ver em meio a to<strong>do</strong> tipo de gente. É natural que não saiba em<br />
quem confiar.<br />
— É verdade, é verdade — aquiesceu o Sr. Preston, e pela segunda vez senti<br />
que ele escondia algo, que sabia mais sobre a caixa <strong>do</strong> que deixava transparecer.<br />
Depois que conseguimos abrir uma boa distância <strong>do</strong> outro barco, o Sr. Hardie<br />
ordenou que parássemos de re<strong>mar</strong>.<br />
— É ela ou eu — disse, apontan<strong>do</strong> com o braço bom na direção da Sra. Grant.<br />
— Vocês precisam decidir se querem ela no coman<strong>do</strong>, ou eu.<br />
Ele nos contou que a caixa era sua, que o conteú<strong>do</strong> não interessava a ninguém<br />
e que não diria mais uma palavra sobre o assunto. Lembrei-me da caixa que eu o<br />
vira colocar discretamente para dentro <strong>do</strong> casaco durante a tempestade e<br />
imaginei que só podia ser a mesma. Se fosse, ele estava fazen<strong>do</strong> um grande<br />
esforço para escondê-la, mas guardei essa observação para mim.<br />
A Sra. Grant percorreu o barco com os olhos e nos deu a oportunidade de falar<br />
o que nos viesse à cabeça. Ela foi a primeira, e estabeleceu o tom. Disse que, em<br />
sua opinião, o Sr. Hardie abusara <strong>do</strong> poder e nos mantivera afasta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> outro<br />
barco devi<strong>do</strong> a sua animosidade com o tal de Blake. Isso podia ou não ter custa<strong>do</strong><br />
vidas, uma vez que não havíamos explora<strong>do</strong> a possibilidade de transferir alguns<br />
de nossos passageiros quan<strong>do</strong> tivéramos a oportunidade. Depois acusou-o de,<br />
com o sorteio, ter provoca<strong>do</strong> a morte de três pessoas, se não mais, embora fosse<br />
a nossa opinião que lhe interessasse, não a sua própria. O coronel levantou-se e<br />
disse que o Sr. Hardie de fato colocara a vida de to<strong>do</strong>s em perigo ao não se<br />
aproxi<strong>mar</strong> <strong>do</strong> terceiro barco nos primeiros dias e que, por seus próprios atos e sua<br />
falta de discernimento, perdera a confiança daqueles coloca<strong>do</strong>s por Deus ou pelo<br />
destino sob sua responsabilidade.<br />
— Sem dúvida seria loucura nos aproxi<strong>mar</strong>mos <strong>do</strong> outro barco com o <strong>mar</strong><br />
mexi<strong>do</strong> como o que vimos hoje, mas devíamos ter feito isso quan<strong>do</strong> pudemos.<br />
O coronel terminou seu discurso com um tom quase heroico ao citar “os<br />
pobres coita<strong>do</strong>s que acabamos de ver, que sem dúvida teriam si<strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong>s<br />
caso tivéssemos nos envolvi<strong>do</strong> e ajuda<strong>do</strong> antes”.<br />
Apenas o Sr. Hoffman manifestou-se em defesa <strong>do</strong> Sr. Hardie, ressaltan<strong>do</strong><br />
que nós mesmos perdêramos apenas oito <strong>do</strong>s nossos. Éramos ainda trinta e um e,