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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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sobre isso que queria falar com Henry. “Mas eu acabo de usar o sistema, que<br />

funcionou perfeitamente”, retrucara Henry. Depois ele me olhara por cima <strong>do</strong><br />

ombro e fizera um sinal com a cabeça antes de prosseguir com o Sr. Cumberland<br />

para discutirem seus assuntos a sós.<br />

Enquanto eu me dirigia para as escadas que me levariam à nossa cabine, meu<br />

coração saltitava ligeiramente, porque aquelas palavras, se eu as tivesse<br />

entendi<strong>do</strong> corretamente, pareciam confir<strong>mar</strong> que Henry enviara o telegrama<br />

para a mãe — e bem em cima da hora, pois foi pouco depois, naquela mesma<br />

tarde, que o Empress Alexandra afun<strong>do</strong>u. Mas agora, no barco salva-vidas, eu<br />

começava a imaginar se as palavras de Henry não estavam dirigidas a mim,<br />

mais <strong>do</strong> que ao Sr. Cumberland. Então fiz um esforço mental para lembrar-me<br />

<strong>do</strong> que o Sr. Cumberland dissera exatamente, pois, se eu não estivesse enganada<br />

quanto ao que ouvira, haveria outro significa<strong>do</strong> que ultrapassava em muito o<br />

simples envio ou não de um telegrama à família de Henry com a notícia de<br />

nosso casamento. Isto é, que o sistema de telegrafia sem fio podia não estar<br />

funcionan<strong>do</strong> na hora <strong>do</strong> naufrágio, e se de fato não estava, nenhum telegrama ou<br />

sinal de qualquer tipo fora envia<strong>do</strong>. E sem nenhum pedi<strong>do</strong> de socorro envia<strong>do</strong>,<br />

nossa posição tinha si<strong>do</strong> o tempo to<strong>do</strong> muito mais crítica <strong>do</strong> que o Sr. Hardie nos<br />

levara a crer.<br />

Paralisada pelo me<strong>do</strong> e pelo frio, mantive os olhos fecha<strong>do</strong>s por um longo<br />

tempo para não ver a escuridão. De vez em quan<strong>do</strong> mergulhava as mãos<br />

machucadas na água acumulada a meus pés, com o único propósito de sentir as<br />

feridas arderem em contato com o sal. Era a necessidade de sentir algo além <strong>do</strong><br />

me<strong>do</strong>. Mary Ann se deitara sobre minhas pernas, e troquei de posição não<br />

apenas para me sentir um pouco mais confortável mas também para acordá-la,<br />

caso não estivesse mergulhada em sono muito pesa<strong>do</strong>. Ela deu um suspiro<br />

profun<strong>do</strong>, mas não se mexeu.<br />

— Mary Ann — sussurrei, inclinan<strong>do</strong>-me sobre seu ouvi<strong>do</strong>. — Está <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>?<br />

— O que foi? — perguntou ela, ainda sonolenta, antes de despertar de vez. —<br />

Aconteceu alguma coisa?<br />

Mas a vontade de dividir com ela minhas inquietudes desaparecera, por isso<br />

limitei-me a dizer:<br />

— Não foi nada. Volte a <strong>do</strong>rmir.<br />

Esforcei-me para pensar coisas boas com relação a Henry e aos nossos<br />

momentos felizes em Londres, mas não consegui; o dia já estava amanhecen<strong>do</strong><br />

quan<strong>do</strong> por fim a<strong>do</strong>rmeci.

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