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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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A LEI<br />

Hoje tive uma audiência perante o juiz Potter, durante a qual as três equipes de<br />

advoga<strong>do</strong>s tentaram anular as acusações contra nós. A Sra. Grant, Hannah e eu<br />

somos acusadas de assassinato em primeiro grau, o que significava não apenas<br />

que matamos alguém, mas que a morte resultou de uma deliberada intenção de<br />

matar. Todas as partes já submeteram um volumoso <strong>do</strong>ssiê com argumentos a<br />

favor e contra a condenação, e era a esses <strong>do</strong>ssiês que o juiz se referia ao fazer<br />

perguntas aos advoga<strong>do</strong>s. Fiquei sentada com Hannah e a Sra. Grant em um<br />

banco de madeira, de onde podíamos observar os debates mas não nos<br />

manifestar.<br />

Houve depois uma longa discussão para determinar se era criminoso ou não o<br />

homem que, agarra<strong>do</strong> a um pedaço de madeira para manter a cabeça fora da<br />

água, empurrava outro que havia chega<strong>do</strong> depois e que a teria toma<strong>do</strong> dele. Era<br />

criminoso o segun<strong>do</strong> homem a chegar ao pedaço de madeira, por ter consegui<strong>do</strong><br />

derrubar o primeiro? É inevitável uma acusação de assassinato em tal cenário,<br />

consideran<strong>do</strong> que, por natureza, os homens farão qualquer coisa para salvar a<br />

própria vida e que o pedaço de madeira suporta apenas uma pessoa? O<br />

sobrevivente está condena<strong>do</strong> a passar o resto de seus dias na prisão se for<br />

apanha<strong>do</strong> e houver testemunhas de seu gesto?<br />

— Certamente que não — afirmou o Sr. Reichmann. — Nesse caso, não há<br />

dano físico direto, e o perde<strong>do</strong>r tem a possibilidade de encontrar outro pedaço de<br />

madeira.<br />

— Considero o critério de anterioridade um ponto relevante — opinou o<br />

advoga<strong>do</strong> de Hannah, um homem magro e de rosto macilento que parecia<br />

jamais ter visto o sol.<br />

— E se houver dano à integridade física? — perguntou o advoga<strong>do</strong> da Sra.<br />

Grant.<br />

Ele fazia um contraste gritante com o advoga<strong>do</strong> de Hannah. Era tão corpulento<br />

que os botões de seu paletó quase não fechavam. Tinha um rosto jovial e cora<strong>do</strong>,<br />

mas sorria demais naquele momento, considerada a gravidade das acusações<br />

que nos eram imputadas.<br />

— O caso é que não estamos falan<strong>do</strong> de um simples pedaço de madeira, ou<br />

estamos? — interveio o promotor, jovem demais para ter experiência de vida<br />

suficiente e arrogante demais para perceber isso. — Compara<strong>do</strong> a um pedaço de<br />

madeira, um barco salva-vidas é um verdadeiro luxo. Existe uma diferença bem<br />

grande entre um e outro. <strong>No</strong> caso da madeira, os homens estão na água, o que<br />

torna a luta pela sobrevivência muito mais imediata <strong>do</strong> que para quem está em<br />

um barco. O senhor diz que o perde<strong>do</strong>r tem a possibilidade de encontrar outro<br />

pedaço de madeira, mas quem é joga<strong>do</strong> de um barco salva-vidas tem a chance

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