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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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conseguir informações e depois repassá-las ao Dr. Cole. Eu presumira que o Dr.<br />

Cole havia si<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> especificamente para meu caso, mas agora percebia<br />

que ele tratava de outros detentos, e caso tratasse de Florence, ela poderia contar<br />

o que ouvia de mim.<br />

Era uma ideia arrepiante, tanto que passei mais de uma hora tentan<strong>do</strong> lembrar<br />

qualquer coisa compromete<strong>do</strong>ra que eu poderia ter dito a Florence. E fiquei mais<br />

apavorada ainda quan<strong>do</strong> descartei a hipótese de Florence ser uma informante e<br />

imaginei que o Dr. Cole poderia tê-la planta<strong>do</strong> ali, ten<strong>do</strong>-a encarrega<strong>do</strong> de<br />

colocar em minha cabeça ideias que me desestabilizassem e assim me fizessem<br />

revelar em minhas consultas mais <strong>do</strong> que eu queria. Foi essa possibilidade que<br />

me manteve acordada a noite inteira e deixou minha camisola encharcada de<br />

suor. Mas ao mesmo tempo que eu ruminava esses pensamentos, também<br />

percebia que era loucura alimentá-los. E se eram ideias malucas, será que eu<br />

estaria perden<strong>do</strong> a razão? Minha mente andava em círculos, uma ideia levan<strong>do</strong> a<br />

outra e mais outra, até eu voltar ao ponto de partida e recomeçar a mesma<br />

espiral de pensamento.<br />

Ali, deitada acordada ouvin<strong>do</strong> os ecos abafa<strong>do</strong>s da prisão, eu me esforçava<br />

para pensar com a razão e foi esse esforço que me levou a perceber que aquele<br />

lugar fazia a mente funcionar <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que no barco salva-vidas. Até<br />

então eu não me sentia infeliz por esperar o momento de minha libertação, pois<br />

jamais tinha realmente imagina<strong>do</strong> que as acusações contra mim pudessem<br />

provocar uma mudança drástica em meu destino, que eu poderia ser executada<br />

ou continuar na prisão até o dia da minha morte. Lembrei-me de ter dito a<br />

Miranda uma vez que a vida era um jogo, e lembrei-me de como eu achava<br />

diverti<strong>do</strong> discutir sobre uma coisa ou outra com o Dr. Cole, mas agora eu estava<br />

severamente abalada. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, nunca é bom for<strong>mar</strong> opiniões rápidas e<br />

decisivas durante a noite, lição que aprendi durante os maus momentos passa<strong>do</strong>s<br />

por minha família e, depois, no barco salva-vidas; de fato, na manhã seguinte<br />

grande parte de minha serenidade estava de volta. Depois disso, no entanto,<br />

bastava eu olhar para Florence para pensar no que seria de mim se não ganhasse<br />

a causa. Pela primeira vez pensei seriamente em minha mãe e me perguntei se<br />

em algum lugar escondi<strong>do</strong> da minha psique eu abrigava algum gene com a<br />

fraqueza dela.<br />

Também passei a ter muito mais cautela com relação ao que dizia ao Dr.<br />

Cole. E, decidin<strong>do</strong> que poderia extrair dele mais informações sobre Florence,<br />

contei-lhe um pouco sobre ela para logo depois perguntar se pessoas assim<br />

geralmente apresentam desequilíbrio desde muito tempo ou se podem ser vítimas<br />

das circunstâncias.<br />

— E quais são as circunstâncias, no caso dessa tal Florence? — perguntou ele,<br />

sem deixar transparecer se a conhecia ou não.<br />

— Ela está presa porque é acusada de ter mata<strong>do</strong> os filhos! — gritei, talvez

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