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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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<strong>do</strong> que Mary Ann e eu dizíamos uma à outra.<br />

— E o que elas diziam?<br />

— Tiveram uma discussão, eu acho, porque Mary Ann parecia muito<br />

aborrecida. Mas devem ter se reconcilia<strong>do</strong> logo, já que nos últimos dias andavam<br />

sempre grudadas, a não ser nos momentos em que Grace ajudava o Sr. Nilsson<br />

com o timão. Na verdade, Mary Ann estava com a cabeça apoiada nos joelhos<br />

de Grace quan<strong>do</strong> morreu. Ela deve ter pedi<strong>do</strong> a Grace que guardasse seu anel de<br />

noiva<strong>do</strong> e o enviasse como lembrança a Robert, o noivo de Mary Ann, pois<br />

Grace enfiou-o disfarçadamente no próprio de<strong>do</strong> antes de se livrarem <strong>do</strong> corpo.<br />

Escutei essa parte <strong>do</strong> depoimento com grande interesse, pois me lembrava<br />

muito pouco daqueles dias entre a morte <strong>do</strong> Sr. Hardie e o resgate, que se deu<br />

quase uma semana depois, e às vezes me perguntava o que exatamente teria<br />

aconteci<strong>do</strong> com Mary Ann. Lembro-me vagamente de ter pensa<strong>do</strong> que Robert<br />

gostaria de receber o anel de Mary Ann, mas, se o tirei de seu de<strong>do</strong>, devo tê-lo<br />

perdi<strong>do</strong>, pois com certeza não está comigo agora. <strong>No</strong> final <strong>do</strong> dia, quan<strong>do</strong> a<br />

audiência foi suspensa, senti o peso <strong>do</strong>s últimos acontecimentos e disse ao Sr.<br />

Reichmann:<br />

— Estamos perdidas. Não existe a menor possibilidade de sermos absolvidas<br />

depois disso!<br />

Ele me puxou para um la<strong>do</strong> no corre<strong>do</strong>r, uma alegria absurda brilhan<strong>do</strong> em<br />

seus olhos.<br />

— O que está dizen<strong>do</strong>? O depoimento sobre a votação foi um golpe de sorte<br />

incrível! E tanto a Sra. Robeson quanto Greta foram fantásticas em estabelecer<br />

uma diferença entre a senhora e as outras duas acusadas. Mas por que não me<br />

contou sobre Mary Ann?<br />

— Não contei o quê?<br />

— Que ela estava com a cabeça em seu colo quan<strong>do</strong> morreu!<br />

— Talvez estivesse. Não tenho qualquer lembrança daquele dia. O senhor está<br />

com meu diário. Escrevi tu<strong>do</strong> que consigo lembrar. Se me lembrasse de mais<br />

alguma coisa, teria escrito, mas esqueci quase tu<strong>do</strong> que aconteceu naqueles<br />

últimos dias.<br />

— Já é hora de a senhora parar com essa encenação de passividade —<br />

afirmou o Sr. Reichmann, fechan<strong>do</strong> o casaco e preparan<strong>do</strong>-se para ir aonde quer<br />

que fosse quan<strong>do</strong> o dia acabava.<br />

Levantei-me, altiva, de um mo<strong>do</strong> que havia muito não fazia, e quan<strong>do</strong> ele<br />

acabou de abotoar o casaco, encarei-o de igual para igual.<br />

— Acha que estou fazen<strong>do</strong> teatro, Sr. Reichmann?<br />

Seu primeiro olhar foi penetrante, mas logo ele piscou para mim.<br />

— Não, não, o dia não poderia ter si<strong>do</strong> melhor.<br />

Ele não respondera a minha pergunta, mas suas palavras haviam me enchi<strong>do</strong><br />

de uma esperança irracional, por isso dei-lhe um boa-noite caloroso. Para então

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