No coracao do mar - Charlotte Rogan

com quem nunca conversara, disse que não era nenhum cientista, mas que lera
que a cor tinha relação com as propriedades refrativas da luz e com as
temperaturas baixas das camadas superiores da atmosfera, que transformavam
as gotículas suspensas em cristais de gelo.
O Sr. Hardie sentia-se em terreno mais firme ao tratar de outros tipos de
questão. Ele nos contou que o Empress Alexandra era equipado com vinte barcos
salva-vidas e que pelo menos dez ou onze tinham sido lançados ao mar com
sucesso, o que significava que no mínimo metade das quase oitocentas pessoas a
bordo teria sido salva. Conseguíamos ver dois deles a distância, mas ignorávamos
o que acontecera com os demais. No início o Sr. Hardie mandara que os
remadores procurassem nos manter afastados das outras embarcações, mas o
coronel Marsh defendeu a ideia de nos aproximarmos o suficiente para falar
com os ocupantes e descobrir se algum parente ou conhecido nosso se
encontrava a bordo. Meu coração disparou ante a ideia de encontrar meu Henry
são e salvo em um dos outros barcos, mas Hardie retrucou:
— De que adiantaria, se eles não podem fazer nada por nós e nem nós por
eles?
— Há força nos números — argumentou o Sr. Preston, e tive que rir, apesar
de seu ar sério, pois ele era contador e imaginei que estivesse brincando.
— Não devíamos pelo menos saber se estão todos bem? — perguntou o
coronel, e o Sr. Nilsson concordou, embora tivesse sido um dos que ajudaram o
Sr. Hardie a rechaçar as pessoas que tentaram se agarrar ao nosso barco e não
me passasse a impressão de preocupar-se muito com o semelhante.
— E se não estiverem? — rugiu Hardie. — O que poderemos fazer? Agora
devemos tentar resolver também os problemas deles, além dos nossos?
Depois resmungou que, da distância em que nos encontrávamos, ele podia ver
que o primeiro barco estava tão cheio quanto o nosso e que o segundo não se
sustentava bem na água.
— O que está querendo dizer? — perguntou o Sr. Hoffman.
— Que alguma coisa não está bem, só isso.
Embora fosse normal que o Sr. Hardie se aconselhasse com os homens
sentados a sua volta, começou a parecer cada vez mais que a opinião deles era a
única que contava. O Sr. Sinclair, que perdera o uso das pernas mas não da
mente, e o diácono, cuja autoridade moral não podia ser ignorada, estavam
sentados perto da proa e não recebiam a atenção de Hardie, mas tomaram a
palavra em nome das mulheres. O Sr. Sinclair começou:
— Algumas pessoas aqui gostariam de saber se seus maridos ou amigos estão
naqueles barcos.
Sua voz tinha uma sonoridade agradável, o que amplificava seu tom de
convicção.
— Ontem mesmo o senhor falou sobre superlotação — acrescentou o diácono.