30.05.2016 Views

No coracao do mar - Charlotte Rogan

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Durante to<strong>do</strong> o outono e o inverno, o Sr. Glover continuou a me contrabandear<br />

artigos sobre o naufrágio <strong>do</strong> Empress Alexandra. Um dia ele me levou o que se<br />

acreditava ser a lista completa <strong>do</strong>s sobreviventes; não constava o nome de<br />

Hardie, mas, pensan<strong>do</strong> bem, não havia como incluir o nome de alguém que não<br />

quisesse ser encontra<strong>do</strong>. Em outra ocasião ele me levou um artigo que abordava<br />

especificamente a tripulação <strong>do</strong> navio naufraga<strong>do</strong>. Quase to<strong>do</strong> o texto se referia<br />

ao comandante Sutter, que passara a maior parte de seus quarenta e <strong>do</strong>is anos no<br />

<strong>mar</strong> e deixara esposa e duas filhas. Meu coração se apertava de compaixão pelas<br />

duas meninas quan<strong>do</strong> me saltou aos olhos o nome Brian Blake, que estava à<br />

espera algumas frases adiante. Pedi ao Sr. Glover que me deixasse ficar com o<br />

jornal e prometi não denunciá-lo caso a carcereira descobrisse o exemplar no<br />

meio das minhas coisas. Depois que ele saiu, e enquanto aguardava a hora <strong>do</strong><br />

jantar, permaneci sentada com os olhos fixos no trecho que aqui transcrevo:<br />

O comandante Sutter era também um pai para os membros da tripulação.<br />

“Se você fosse leal com o comandante, ele seria leal com você na mesma<br />

medida”, conta William Smith, oficial <strong>do</strong> Empress Alexandra que foi um<br />

<strong>do</strong>s poucos membros da tripulação a sobreviver. “Claro que, sen<strong>do</strong> assim,<br />

deduz-se também que ninguém iria querer contrariá-lo.”<br />

Smith menciona o caso de outro oficial, de nome Brian Blake, que tinha si<strong>do</strong><br />

preso em Londres alguns anos antes, acusa<strong>do</strong> de receptação. “O<br />

comandante encarregou-se de limpar o nome de Blake e provar que os<br />

indícios apontavam para outro suspeito. E veja que tipo de pessoa era o<br />

comandante, pois quan<strong>do</strong> o outro sujeito saiu da prisão, o comandante Sutter<br />

conseguiu um emprego para ele.”<br />

Nem por um instante cheguei a pensar que o anônimo em questão pudesse ser<br />

outro que não John Hardie, e naquela noite não preguei o olho tentan<strong>do</strong> chegar a<br />

uma explicação que justificasse a história de William Smith e também o que eu<br />

já sabia sobre Hardie e Blake. Havia animosidade entre esses <strong>do</strong>is homens por<br />

causa de algum incidente em que Hardie levara a culpa por um ato de Blake, ou<br />

eles eram parceiros em algum negócio clandestino <strong>do</strong> qual Blake tivera a sorte de<br />

escapar e Hardie não? E se tivessem si<strong>do</strong> cúmplices em algum momento no<br />

passa<strong>do</strong>, não poderiam sê-lo também na hora de tirar uma arca de ouro da sala<br />

<strong>do</strong> cofre <strong>do</strong> Empress Alexandra? Eu sabia de fonte segura que Blake tinha uma<br />

chave da sala, mas ele jamais teria consegui<strong>do</strong> carregar sozinho uma arca<br />

pesada. Se os <strong>do</strong>is estivessem ocupa<strong>do</strong>s com essa tarefa, não poderiam estar<br />

perto da sala de rádio e por isso não saberiam que o sistema de comunicação<br />

sem fio estava com defeito e que não houvera pedi<strong>do</strong> de socorro. Isso explicaria<br />

sua relutância em deixar a área <strong>do</strong> naufrágio. Por fim, perguntei a mim mesma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!