No coracao do mar - Charlotte Rogan

considerei a possibilidade de ele ter estado doente ou sofrido algum distúrbio
mental, por isso, em vez de dar voz às indagações que povoavam minha mente,
permaneci em silêncio, pois sabia que o único modo de determinar a verdade
seria deixando-o falar.
Eu escolhera um vestido claro e delineara os olhos para destacá-los em meu
rosto pálido. Não era exatamente uma fantasia nem um disfarce, apenas uma
forma de comunicação. Eu queria que Henry percebesse que eu não seria forte
a ponto de perdê-lo. Queria que visse que, por mais que eu fosse um
complemento valioso para suas vidas pessoal e profissional, não seria
voluntariosa nem difícil.
— Devo-lhe uma desculpa... várias, na verdade — começou Henry, em tom
formal e com apenas um leve resquício de exaltação nos olhos. — Eu me portei
mal, e isso não se repetirá.
Ele fez uma pausa, e fui tomada pelo pavor de que aquilo significasse o fim de
tudo, de que ele dissesse que iria embora e que se casaria na data mencionada
em meu exemplar amassado do Times. A cerimônia estava marcada para dali a
menos de quatro semanas. Ele voltaria para a noiva após ter feito todas as
loucuras possíveis da juventude e eu tomaria o trem para Baltimore apenas com
as lembranças do que poderia ter sido... Mas então Henry olhou bem no fundo de
meus olhos, e o que vi derreteu o gelo que empedernia meu coração, e eu ousei
sonhar. Ousei ter esperança. Minha vontade era correr em sua direção e sacudilo
até extrair dele as palavras relutantes, pois de um modo ou de outro ele
precisava revelar meu destino. Mas não: fiquei imóvel como uma estátua, e
mesmo a quase um metro dele podia sentir o calor que irradiava de seu corpo.
— Ainda que eu seja condenado por toda a eternidade pelo que estou
causando a Felicity, farei de você minha esposa.
Henry explicou-me que precisaria planejar com cuidado sua saída de cena, já
que as duas famílias eram amigas de longa data. Eu não me importava que ele
precisasse manter-me em segredo por mais algum tempo, pois isso tornaria
nossos momentos juntos ainda mais doces. Não o questionei sobre a jovem da
qual estava noivo, mas devo ser perdoada — ou não — por sugerir que talvez ela
também fosse prisioneira de expectativas e acabasse gostando da liberdade tanto
quanto ele, mesmo que não tivesse consciência disso no início. Ele pareceu
infantil e esperançoso diante de minha insinuação, como se eu fosse uma tia
querida escondendo um presente atrás das costas. Nem por um instante um de
nós acreditou nessa hipótese, mas era uma ficção útil que permitia a Henry
questionar os sentimentos de Felicity o suficiente para fortalecê-lo para a tarefa
que ele teria pela frente.