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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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DIAS SETE E OITO<br />

Em algum momento daqueles <strong>do</strong>is dias de cerração, to<strong>do</strong>s ouvimos uma sirene<br />

de nevoeiro. Não podia ser outra coisa. A Sra. Grant perguntou ao Sr. Hardie se<br />

seria possível o outro barco salva-vidas carregar esse instrumento, ao que ele<br />

respondeu:<br />

— É possível, mas para mim esse som é de buzina de navio.<br />

Ficamos to<strong>do</strong>s entusiasma<strong>do</strong>s, embora frustra<strong>do</strong>s pela falta de visibilidade.<br />

Gritamos até não poder mais. Batemos nas laterais <strong>do</strong> barco com remos, baldes e<br />

qualquer outro objeto que fizesse barulho, mas ao meio-dia o som tinha cessa<strong>do</strong>;<br />

e quan<strong>do</strong> a cerração finalmente levantou e vimos que o segun<strong>do</strong> barco sumira,<br />

foi como se uma bruma protetora tivesse se ergui<strong>do</strong> de nossas almas também,<br />

deixan<strong>do</strong>-nos perceber com clareza a terrível realidade de nossa situação. To<strong>do</strong>s<br />

nós ouvíramos a sirene de nevoeiro... Não havia dúvida quanto a isso, ao<br />

contrário das luzes <strong>do</strong> Sr. Preston. Após muita discussão, durante a qual Hardie<br />

avaliou em silêncio o ângulo <strong>do</strong> sol, o Sr. Preston entendeu que os ocupantes <strong>do</strong><br />

outro barco salva-vidas tinham si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s e que nossa chance de<br />

semelhante resgate deixara de existir. Isso levou o Sr. Nilsson a afir<strong>mar</strong>:<br />

— Se conseguíamos avistar o outro barco, então eles também nos viam. E<br />

jamais permitiriam que um navio de resgate deixasse a área sem montar uma<br />

busca.<br />

— O senhor não conhece Blake — murmurou Hardie. — Não temos como<br />

saber o que ele teria feito.<br />

— Blake — disse o Sr. Preston — é o oficial que vimos sair da sala de rádio <strong>do</strong><br />

navio. O que aju<strong>do</strong>u a baixar nosso barco.<br />

— Ele era o segun<strong>do</strong> oficial <strong>do</strong> Empress Alexandra — acrescentou Greta.<br />

— É, é — confirmou o Sr. Hardie. — O canalha mais desprezível que já<br />

conheci.<br />

O Sr. Preston virou-se para mim e perguntou:<br />

— A senhora conhecia Blake, certo? — Respondi que achava que não. —<br />

Então seu <strong>mar</strong>i<strong>do</strong> conhecia. Tenho certeza de que vi vocês três juntos no convés.<br />

Encarei-o com ar de indagação; ele olhou rapidamente para Mary Ann antes<br />

de dizer:<br />

— Devo estar engana<strong>do</strong>.<br />

Tive a impressão, no entanto, de que ele escondia algo. Tentei imaginar o que<br />

estaria pensan<strong>do</strong> ou se apenas Mary Ann lhe teria conta<strong>do</strong> uma daquelas histórias<br />

que circulavam pelo barco e que pareciam sofrer alterações toda vez que eram<br />

passadas adiante.<br />

— Como pode saber que foi o barco de Blake que se aproximou <strong>do</strong> nosso e não<br />

o outro que vimos? — perguntou o coronel. — Desde os primeiros dias, não nos

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