No coracao do mar - Charlotte Rogan

Não me ocorreu perguntar por que ele não nos falara sobre as mensagens
enviadas pelo sistema sem fio, e os homens das duas embarcações logo
passaram a questioná-lo sobre o conteúdo dos comunicados e eventuais respostas
recebidas.
— O navio estava em chamas, não tivemos tempo para esperar respostas —
rugiu Hardie, e em seguida perguntou ao homem de barba se ele sabia o nome
do oficial do outro barco.
— Blake — respondeu o outro. — Sr. Blake, é este o nome do oficial.
E apontou na direção do barco salva-vidas que balançava a menos de
quinhentos metros a leste.
— Blake? — repetiu Hardie, mais para si mesmo do que para o outro homem.
Pensei ter visto uma sombra cruzar seu olhar, como se a notícia o
surpreendesse mais do que ele gostaria de deixar transparecer.
— Não nos perca de vista, se conseguir — aconselhou o Sr. Hardie —, e se o
tempo ficar ruim, use os remos para orientar o nariz do barco na direção do
vento. É a melhor maneira de atravessar uma tempestade.
Depois, ordenou que nossos remadores abrissem uma boa distância do outro
barco.
— Não vamos verificar quem está no segundo barco? — perguntou o coronel,
ao que o Sr. Hardie respondeu que não, que já havia visto o suficiente.
O coronel resmungou, mas não discutiu, e ainda que os outros tenham ficado
tentados a tomar partido dele contra o Sr. Hardie, preferiram o silêncio. Agora,
tenho a impressão de que nosso maior erro foi termos nos mantido afastados do
barco mais vazio. Imaginei que fosse pouco provável que o Sr. Blake atirasse
mais gente ao mar, e o fato de o Sr. Hardie conhecê-lo parecia contar a nosso
favor. Não paro de me perguntar por que a Sra. Grant não se manifestou. Talvez
ela quisesse falar, mas foi impedida quando, no momento seguinte, o coronel
assumiu uma linha diferente de indagação.
— Como sabe tanto sobre o que se passava no rádio do Empress Alexandra? —
perguntou ele ao Sr. Hardie.
— Blake me contou. Quando o fogo se espalhou, quem estava abaixo do
convés subiu para ajudar os passageiros a embarcar nos salva-vidas. Foi quando
vi Blake. Foi ele quem disse: “Melhor ir com esse grupo, companheiro. Eles vão
precisar de um marinheiro a bordo para sobreviver.”
Foi então que tive uma vaga lembrança de ter visto o Sr. Hardie conversando
com outro homem no dia do naufrágio. Em circunstâncias normais, eu teria dito
que eles estavam discutindo, mas naquele momento todas as pessoas ao redor
davam ordens e gritavam na tentativa de ser ouvidas. Os dois vestiam roupas
semelhantes, mas enquanto o casaco do Sr. Hardie tinha mangas lisas, as do outro
eram adornadas com brocado dourado. Tive a impressão de que o homem com
o brocado dourado era o mesmo de quem Henry se aproximara logo que