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No coracao do mar - Charlotte Rogan

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pergunta apropriada, e não vejo como é possível reprovar minha cliente por<br />

responder que sim, mesmo sen<strong>do</strong> totalmente aceitável também que outra pessoa<br />

responda que não.<br />

O promotor reagiu:<br />

— O senhor parte <strong>do</strong> princípio de que havia meios de averiguar se a vida de<br />

alguns seria de fato poupada por alguma medida que os demais ocupantes <strong>do</strong><br />

barco pudessem to<strong>mar</strong>. Era muito mais provável que as vidas fossem apenas<br />

prolongadas, não poupadas. Quem poderia prever quan<strong>do</strong> ocorreria o resgate? O<br />

socorro tanto poderia ter chega<strong>do</strong> uma hora após alguma decisão fatal quanto<br />

dentro de um dia ou uma semana.<br />

— O senhor esquece a tempestade — rebateu o advoga<strong>do</strong> da Sra. Grant, que<br />

falava despreocupadamente, mas parecia menos prepara<strong>do</strong> que os colegas. — O<br />

mau tempo antecipou para aquele momento específico a necessidade de agir.<br />

Em primeiro lugar, era muito improvável que o resgate chegasse durante a<br />

tempestade, pois, mesmo que um navio estivesse nas proximidades, não haveria<br />

como enxergar o barco ou aproxi<strong>mar</strong>-se em condições tão adversas. E em<br />

segun<strong>do</strong> lugar, em meio a uma tempestade a destruição <strong>do</strong> barco superlota<strong>do</strong><br />

parecia provável, se não certa. Em tais circunstâncias, a situação a bor<strong>do</strong> é<br />

análoga à <strong>do</strong>s homens agarra<strong>do</strong>s ao pedaço de madeira, pois torna a luta pela<br />

vida tão imediata quanto se os ocupantes já estivessem se debaten<strong>do</strong> na água.<br />

— Este pode ou não ser o caso, mas no momento não estamos discutin<strong>do</strong> os<br />

atos <strong>do</strong> Sr. Hardie — retrucou o promotor, apontan<strong>do</strong> para uma falha na<br />

argumentação que era evidente até para mim.<br />

Até então eu tivera pena de Hannah pela escolha <strong>do</strong> advoga<strong>do</strong> com o pescoço<br />

de <strong>do</strong>bradiça, mas agora sentia pena da Sra. Grant, pois seu defensor esquecera<br />

que a tempestade já havia passa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> matamos o Sr. Hardie. Como bem<br />

lembrou o promotor:<br />

— Ainda era o Sr. Hardie quem estava no coman<strong>do</strong> na hora da tempestade. Se<br />

a ideia dele de organizar um sorteio foi ou não justificável é uma questão aberta<br />

ao debate, mas não foi para julgar esse caso que o júri foi convoca<strong>do</strong>.<br />

— Pois bem — concor<strong>do</strong>u o advoga<strong>do</strong> de Hannah. Com seus de<strong>do</strong>s enormes,<br />

ele examinou atabalhoadamente um amontoa<strong>do</strong> de <strong>do</strong>cumentos e extraiu um de<br />

debaixo da pilha. Segurou-o contra a luz, e uma expressão intrigante surgiu em<br />

seu rosto páli<strong>do</strong> e compri<strong>do</strong>. — Mas se os atos <strong>do</strong> Sr. Hardie são desculpáveis,<br />

devem existir também elementos que justifiquem os atos das mulheres, que<br />

apenas deram continuidade a um precedente aberto por outra pessoa. Não se<br />

deve esquecer que o barco salva-vidas sofreu avarias durante a tempestade e que<br />

se enchia de água com uma rapidez incrível.<br />

— Duvi<strong>do</strong> muito que a rapidez com que o barco enchia possa ser determinada<br />

— retrucou o promotor.<br />

— O que quero dizer é que se, no caso da tempestade e <strong>do</strong> hipotético pedaço

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