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livro e-book Gestao Publica - Um olhar dos servidores - Baixa Resolucao

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2 A CRIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR EM BELÉM DO PARÁ NO<br />

CONTEXTO DA BELLE ÉPOQUE AMAZÔNICA<br />

Em seus 401 anos de história, Belém vivenciou tempos aureos, especialmente,<br />

no período da borracha, metade do século XIX e início do século XX, momento em<br />

que a elite regional 2 se esforçou por promover reformas urbanas, que refletiam os<br />

sinais de conforto material e de progresso facilita<strong>dos</strong> pelos negócios da borracha.<br />

A cidade de Belém teve os seus primeiros bancos funda<strong>dos</strong>,<br />

pavimentou ruas, criou a sua Capitania do Porto, viu a quantidade <strong>dos</strong><br />

seus prédios aumentar cada vez mais, enfim, de início ao período de<br />

mudanças urbanas que culminou com os palacetes e as construções<br />

de ferro caracterísiticos das suas construções na virada do século XIX<br />

para o XX (BATISTA, 2009, p. 127 – 128)<br />

O período da borracha refletiu diretamente no processo de urbanização e<br />

embelezamento de Belém. O indice de urbanização da cidade foi tão expressivo<br />

que entre os anos de 1900 e 1920, suplantou ao da “capital do café”. A taxa de<br />

crescimento geométrico para Belém e São Paulo foi de, respectivamente, 4,6 e<br />

4,5 (MORAES, 2009, p. 165). Nesse período muitos nordestinos vieram para<br />

a Amazônia, principalmente os cearences, “eram emigrantes que iam atrás do<br />

sonho de enriquecer e fugir da miséria” (SECRETO, 2007, p. 53).<br />

Belém passou a ser considerada uma das cidades mais desenvolvidas do<br />

país, “era indiscutível a prosperidade visível nas ruas, na monumentalidade das<br />

avenidas e a euforia retratada na agenda <strong>dos</strong> acontecimentos culturais e sociais”<br />

(DAOU, 2000, p. 30).<br />

Se por um lado Belém, capital da borracha, mantinha dependencia financeira<br />

e comercial com a Inglaterra, por outro era culturalmente alinhada à França,<br />

chegando a cidade a ser conhecida, na época, como Paris n’América. Exportavase<br />

borracha e importava-se do exterior bens, os mais diversos e sofistifca<strong>dos</strong><br />

Os anos de 1910 marcaram o final da belle époque. Em 1908, a produção de<br />

borracha na Ásia superou a produção gomífera amazônica, assim a região perdeu<br />

a posição privilegiada de grande produtora internacional da borracha e passou a<br />

sofre com a crise da decadência do comercio gomífero<br />

Agora tinha como poderoso concorrente os asiáticos, cuja produção<br />

fez baixar o preço do produto. Na Ásia, a borracha tinha sido<br />

aclimatada e cultivada de forma sistemática, o que terminou não<br />

somente com o monopólio, mas também com a escassez (SECRETO,<br />

2007, p. 53)<br />

No geral, o quadro que se instalou foi desolador, sem horizonte para reverter<br />

a situação um grande número de empresas responsáveis pelas exportações deixou<br />

a Amazônia. “Belém, historicamente mero entreposto comercial, não tem o<br />

que exportar (...). A população toda sofria os efeitos danosos de uma economia<br />

periférica, não diversificada” (MORAES, 2009, p. 179). Nesse período, a crise<br />

também marcou as histórias de vida <strong>dos</strong> filhos da elite regional, “em muitos casos,<br />

apenas os filhos mais velhos se beneficiaram com a vida na Europa, para onde<br />

haviam ido estudar ou passear” (DAOU, 2000, p. 68).<br />

Moreira (1977, p. 13) afirma que na fase áurea da borracha, época em que<br />

o Estado do Pará usufruía de boas condições econômicas, o ensino primário e o<br />

profissional se desenvolveram consideravelmente, porém o mesmo não aconteceu<br />

com o ensino superior, apenas dois estabelecimentos de ensino desse nível surgiram<br />

então, a Faculdade Livre de Direito, em 1902 e a Escola de Farmácia em 1904.<br />

Informações do IBGE, o quadro a seguir, apresenta da<strong>dos</strong> que corroboram em<br />

parte a afirmativa do autor, os números sobre o ensino primário não se encontram<br />

disponíveis no site.<br />

Quadro 1 - Da<strong>dos</strong> sobre a Educação no Estado do Pará no período de 1907 a 1910, período que<br />

coincide com os anos finais da Belle Époque:<br />

(...) as maneiras de trajar <strong>dos</strong> homens e mulheres no Pará: vestiamse<br />

pela última moda francesa, com caudas e anquinhas, fraques<br />

e cartolas. Nas casas de família havia sempre um piano, e bandas<br />

marciais tocando hinos patrióticos (DAOU, 2000, p. 27).<br />

O gosto pela cultura européia não se restringia apenas ao vestuário, móveis<br />

e objetos, era cultivado com tanto empenho pela elite paraense, que seus filhos<br />

eram envia<strong>dos</strong> às escolas de países europeus para serem educa<strong>dos</strong><br />

Numerosas crianças nascidas na Amazônia eram educadas no Rio de<br />

Janeiro, na França, em Portugal, na Alemanha e na Inglaterra. Os<br />

periódicos de Manaus e de Belém sempre anunciavam a chegada<br />

ou a partida de filhos de famílias de renomes para os estu<strong>dos</strong> “fora”<br />

(MORAES, 2009, p. 173)<br />

2 A elite tradicional era composta por proprietários de terras, os pecuaristas, e por grandes<br />

comerciantes, sobretudo os de origem portuguesa, de quem também descendiam muitos <strong>dos</strong><br />

funcionários públicos e cuja permanência no Grão-Pará remontava ao século XVIII (DAOU,<br />

2000, p. 9)<br />

NÍVEL DE<br />

NÚMERO DE INSTITUIÇÕES/ANO<br />

ENSINO<br />

1907 1908 1909 1910<br />

Primário - - - -<br />

Secundário 1 1 1 1<br />

Profissional 12 12 12 13<br />

Superior 2 2 2 2<br />

Fonte: Estatística do Século XX, IBGE (2017). Elaborado pelo autor.<br />

O incremento do ensino superior no Pará só ocorreu, portanto, durante a<br />

fase crítica da economia da borracha, período de grande depressão econômica na<br />

região. A implementação tardia desse nível de ensino no Pará se deu em virtude<br />

da deturpada visão de mundo das elites locais.<br />

16 17<br />

Este procedimento se explica pelo caráter da burguesia comercial<br />

que estava implantada no Estado, que vivia do lucro da extração do

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