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Segundo Chaves (2014; p. 37) internacionalizar é “processo de integrar uma<br />
definição internacional, intercultural e ou global nos objetivos, funções (ensino/<br />
aprendizagem, investigação, serviços) e distribuição do ensino superior”. A autora<br />
afirma que as motivações para o incentivo à internacionalização de instituições<br />
de ensino superior podem ser de ordens acadêmicas, econômicas, políticas ou<br />
religiosas.<br />
Pese a que o processo de internacionalização esteja muito ligado ao processo<br />
de mercantilização da educação superior, não se pode desqualificar a importância<br />
que este processo tem para o desenvolvimento da educação superior, de acordo<br />
com Azevedo e Catani (2013) o trabalho intelectual precisa de cooperação para<br />
avançar.<br />
Ainda segundo Azevedo e Catani (2013) não é incompatível a valorização<br />
<strong>dos</strong> atores e conhecimentos locais com o processo de internacionalização<br />
da educação superior. É necessário, no entanto, buscar estabelecer redes de<br />
cooperação solidárias, nas quais haja de fato uma troca, e não apenas um depósito<br />
de conhecimento de mão única.<br />
Morosini (2011) explana sobre os dois modelos de cooperação internacional<br />
que podem ocorrer na educação superior. O primeiro é a Cooperação Internacional<br />
Tradicional (CIT), o qual é “caracterizado por relações de competitividade<br />
entre as instituições de educação superior (IES) na captação de sujeitos e de<br />
consumidores” (MOROSINI, 2011; p. 95); e o segundo modelo é chamado de<br />
Cooperação Internacional Horizontal (CIH), o qual se baseia na troca igualitária<br />
e solidária. O CIT é predominantemente marcado pela lógica de mercado e nas<br />
relações norte-sul, no qual o Sul busca qualificação no Norte, enquanto que o CIH<br />
pode verificar-se em relações dentro da mesma região sul.<br />
E nesse aspecto Morosini (2011) destaca que ambos os modelos de<br />
Cooperação Internacional (CIT e CIH) são muito importantes para a prosperidade<br />
da educação superior no Brasil, no entanto deve-se manter a precaução de que<br />
as cooperações mantidas com outras instituições e países não se constituam<br />
em relações de neocolonialismo, mas sim de uma construção conjunta de<br />
conhecimento para as partes relacionadas.<br />
Não obstante as cooperações internacionais sejam indispensáveis para a<br />
prosperidade da ciência e educação superior no país, as universidades federais<br />
brasileiras esbarram em uma série de empecilhos para alcançar o almejado status<br />
de universidade internacional. Morosini (2006; p. 108) destaca “os formalismos<br />
e a dependência das políticas estatais” que sofrem as IFES, assim como sua falta<br />
de autonomia. Castro et al (2012) destacam que nem as maiores universidades<br />
federais brasileiras tem ainda estrutura para receber estudantes internacionais,<br />
e que é oportuno que as IES brasileiras façam parte dessa tendência global de<br />
internacionalização.<br />
No que tange à implementação do Programa Ciência sem Fronteiras nas<br />
Instituições de Ensino Superior brasileiras, principalmente nas universidades<br />
federais, Castro et al (2012) enfatizam que toda tentativa de retirar o Brasil<br />
do isolamento científico e educacional deve ser apoiada, e que o Ciência sem<br />
Fronteiras é a primeira política pública que oferece uma possibilidade real de<br />
alavancar o processo de internacionalização do ensino superior brasileiro.<br />
Silva Junior e Spears (2012) atestam também a importância do Ciência sem<br />
Fronteiras:<br />
166 167<br />
A internacionalização via cooperação internacional tem sua maior<br />
expressão no programa do governo federal “Ciência sem Fronteiras”,<br />
para promover a consolidação, expansão e internacionalização da<br />
ciência, tecnologia e inovação da competitividade brasileira por meio<br />
do intercâmbio e da mobilidade internacional” (SILVA JR e SPEARS,<br />
2012; p. 16)<br />
No entanto, Silva Jr e Spears (2012) ressaltam que nesse tipo de estratégia<br />
os países parceiros (no caso do CsF são países do hemisfério norte) acabam por<br />
impor seu modelo científico ao modelo local, isto financiado pelo fundo público.<br />
Por este motivo, afirma Chaves (2014), que este programa não se trata de uma<br />
cooperação solidária, e sim trata-se de relações competitivas na qual a educação é<br />
configurada como mercadoria do mercado internacional.<br />
2.3 A importância da avaliação da mobilidade como ferramenta do CsF<br />
O segundo objetivo <strong>dos</strong> nove objetivos estabeleci<strong>dos</strong> pelo Decreto nº<br />
7.642 de 2011 para o Programa Ciência sem Fronteiras é ampliar a mobilidade<br />
internacional de brasileiros em instituições de excelência no exterior. Logo, podese<br />
afirmar que a mobilidade é a principal ferramenta utilizada pelo programa para<br />
atingir as metas de internacionalização. Para sociólogo francês Bourdieu “os<br />
intercâmbios internacionais estão sujeitos a uma série de fatores estruturais que<br />
geram mal-entendi<strong>dos</strong>. O primeiro fator: o fato de que os textos circulam sem<br />
seu contexto” (Apud AZEVEDO e CATANI, 2013; p.277). A citação de Bourdieu<br />
alerta para os mal-entendi<strong>dos</strong> que podem ocorrer ao tirar de seu contexto original<br />
a ciência produzida.<br />
Por outro lado, Castro et al (2012; p. 32) esclarece, com relação à mobilidade<br />
internacional que “uma pesquisa detalhada feita com estudantes norte-americanos<br />
no exterior confirma que, de fato, os benefícios só se tornam consistentes após<br />
perío<strong>dos</strong> de um ano”.<br />
Azevedo e Catani (2013) alertam para a necessidade de ser elaborado<br />
um bom planejamento para tais políticas de mobilidade estudantil em países<br />
periféricos como o Brasil, caso contrário pode se constituir apenas de uma relação<br />
mercantil, na qual o país periférico apenas paga a conta da compra de serviços<br />
educacionais que colaboram para a manutenção da hegemonia <strong>dos</strong> países centrais.<br />
Semelhante alerta faz também Santos Júnior (2012; p. 346), “o Brasil pode