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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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— Ainda não encontramos o local de abate de nenhuma das garotas — disse Richard, uma<br />

das mãos no volante, a outra no encosto do meu banco. — Só os locais de desova, e esses<br />

estão muito contaminados. — Ele fez uma pausa. — Desculpe. “Local de abate” é uma<br />

expressão feia.<br />

— Mais adequada a um abatedouro.<br />

— Uau. Cinco pontos com essa palavra, Camille. Sete pontos e meio em Wind Gap.<br />

— É, eu esqueço como vocês de Kansas City são cultos.<br />

Levei Richard até uma estrada de cascalho sem identificação e estacionamos no mato à<br />

altura do joelho, cerca de quinze quilômetros ao sul de onde o corpo de Ann fora encontrado.<br />

Abanei a nuca no ar úmido, puxei as mangas compridas, grudadas nos braços. Fiquei<br />

imaginando se Richard poderia sentir o cheiro do álcool da noite anterior, agora em gotas de<br />

suor sobre a minha pele. Caminhamos para a floresta, descendo a colina, depois subindo. As<br />

folhas de algodoeiro cintilavam, como sempre, com brisas imaginárias. Vez ou outra podíamos<br />

ouvir um animal fugindo, um pássaro alçando voo de repente. Richard caminhava com<br />

segurança atrás de mim, arrancando folhas e as rasgando lentamente pelo caminho. Quando<br />

chegamos ao local, nossas roupas estavam encharcadas, meu rosto pingava suor. Era uma<br />

antiga escola que possuía uma única sala, ligeiramente inclinada para um lado, trepadeiras<br />

entrando e saindo das ripas.<br />

Dentro, havia meio quadro-negro na parede. Continha desenhos elaborados de pênis<br />

entrando em vaginas — sem corpos anexados. Folhas mortas e garrafas de bebida cobriam o<br />

chão, algumas latas de cerveja enferrujadas de uma época anterior à dos anéis de alumínio.<br />

Restavam algumas poucas carteiras pequenas. Uma estava coberta por uma toalha de mesa, um<br />

vaso de rosas mortas no centro. Um lugar lamentável para um jantar romântico. Espero que<br />

tenha sido bom.<br />

— Belo trabalho — disse Richard, apontando para um dos desenhos feitos com giz de cera.<br />

A camisa social azul-clara grudava nele. Dava para ver o contorno de seu peitoral<br />

musculoso.<br />

— Isto é basicamente um esconderijo de garotos, obviamente — falei. — Mas é perto do<br />

riacho, então achei que deveria ver.<br />

— Aham — retrucou, depois me olhou em silêncio antes de continuar: — O que você faz<br />

em Chicago quando não está trabalhando?<br />

Ele se inclinou sobre a carteira, pegou uma rosa seca no vaso e começou a esmagar as<br />

folhas.<br />

— O que eu faço?<br />

— Você tem namorado? Aposto que tem.<br />

— Não. Não tenho namorado há muito tempo.<br />

Ele começou a arrancar as pétalas da rosa. Não sabia se estava interessado na minha<br />

resposta. Ergueu os olhos e sorriu para mim.

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