Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— Esta é de Natalie. E esta — continuou, puxando os cabelos para trás e revelando uma<br />
orelha esquerda com apenas metade do lóbulo. — Ela mordeu minha mão quando eu pintava<br />
suas unhas. Na metade do processo decidiu que não gostava, eu pedi para me deixar terminar,<br />
e quando segurei sua mão, ela enfiou os dentes em mim.<br />
— E o lóbulo?<br />
— Passei uma noite lá, quando meu carro não funcionou. Estava dormindo no quarto de<br />
hóspedes e quando vi havia sangue no lençol e minha orelha parecia em chamas, como se eu<br />
quisesse fugir, mas aquilo estivesse preso à minha cabeça. E Natalie gritava como se ela<br />
estivesse em chamas. Aqueles gritos foram mais assustadores que a mordida. O Sr. Keene teve<br />
que segurá-la. A menina tinha problemas sérios. Procuramos meu lóbulo, para ver se podia ser<br />
costurado, mas havia sumido. Acho que ela engoliu — falou, e deu uma risada que parecia o<br />
inverso de uma inspiração. — Eu só consegui sentir pena dela.<br />
Mentira.<br />
— E Ann, era igualmente má? — perguntei.<br />
— Pior. Há pessoas por toda a cidade com marcas dos dentes dela. Incluindo sua mãe,<br />
Camille.<br />
— O quê?<br />
Minhas mãos começaram a suar e minha nuca ficou fria.<br />
— Sua mãe estava dando aulas a ela, e Ann não estava entendendo. Ela surtou, puxou os<br />
cabelos da sua mãe e mordeu seu pulso. Com força. Acho que ela levou pontos.<br />
Imagens do braço fino de minha mãe entre dentinhos, Ann sacudindo a cabeça como um<br />
cachorro, sangue brotando na manga de minha mãe, nos lábios de Ann. Um grito, Ann<br />
largando.<br />
Um pequeno círculo tracejado e, dentro, um anel de pele perfeita.