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Objetos cortantes - Gillian Flynn

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— Que merda, claro que prefiro. Mas também não sou tão idiota. Posso não ter trabalhado<br />

em nenhum homicídio antes, mas não sou um idiota.<br />

Nesse momento desejei não ter bebido tanta vodca. Meus pensamentos estavam se<br />

dissolvendo, não conseguia acompanhar o que ele dizia, não conseguia fazer as perguntas<br />

certas.<br />

— Acha que alguém de Wind Gap está fazendo isso?<br />

— Sem comentários.<br />

— Em off, por que alguém de Wind Gap mataria crianças?<br />

— Fui chamado uma vez porque Ann havia matado o pássaro de estimação de um vizinho<br />

com uma vara. Ela mesma a afiou com uma das facas de caça do pai. E Natalie, merda, a<br />

família se mudou para cá da Filadélfia há dois anos porque ela furou o olho de uma colega de<br />

turma com uma tesoura. O pai dela largou o emprego em uma grande empresa para que eles<br />

pudessem recomeçar. No estado em que o avô dele cresceu. Em uma cidade pequena. Como se<br />

uma cidade pequena não tivesse os próprios problemas.<br />

— Sendo que não é um dos menores todos saberem quais são as sementes ruins.<br />

— Exatamente.<br />

— Então acha que poderia ser alguém que não gostava das crianças? Dessas crianças<br />

especificamente? Que talvez eles tenham feito algo ao assassino? E ele resolveu se vingar?<br />

Vickery puxou a ponta do nariz, coçou o bigode. Olhou para o martelo no chão e eu via que<br />

ele estava na dúvida se o pegava e me mandava embora ou continuava a conversar.<br />

Nesse instante, um sedã preto parou perto de nós, a janela do carona baixando antes mesmo<br />

de o carro parar. O motorista, com o rosto bloqueado por óculos escuros, colocou a cabeça<br />

para fora a fim de olhar para nós.<br />

— Oi, Bill. Achei que íamos nos encontrar no seu escritório agora.<br />

— Eu tinha trabalho a fazer.<br />

Era Kansas City. Olhou para mim, baixando os óculos de uma forma treinada. Tinha um<br />

cacho de cabelos castanho-claros que caíam sobre o olho esquerdo. Olhos azuis. Sorriu para<br />

mim, dentes perfeitos como pastilhas.<br />

— Olá — disse, ainda olhando para Vickery, que se curvou enfaticamente para pegar o<br />

martelo, e então para mim.<br />

— Oi — respondi.<br />

Puxei as mangas sobre as mãos, segurei as pontas contra as palmas, me apoiei em uma<br />

perna.<br />

— Então, Bill, quer uma carona? Ou prefere ir andando? Eu poderia comprar um café para<br />

nós e encontrar você lá.<br />

— Não bebo café. Algo que você já deveria ter notado. Estarei lá em quinze minutos.<br />

— Tente chegar em dez, ok? Já estamos atrasados — disse Kansas City, olhando para mim<br />

mais uma vez. — Tem certeza de que não quer uma carona, Bill?<br />

Vickery não disse nada, apenas balançou a cabeça negativamente.

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