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Katie pegou um maço de cigarros na gaveta da mesinha lateral, acendeu um com um fósforo<br />
comprido de lareira. Ainda fumava escondida.<br />
— Ah, ela e aquelas três meninas, aquelas coisinhas louras que já têm peitos, elas mandam<br />
na escola, e Amma manda nelas. Falando sério, é ruim. Às vezes é engraçado, mas<br />
principalmente ruim. Obrigam a garota gorda a dar o almoço a elas todo dia, e antes que ela<br />
saia, a obrigam a comer algo sem usar as mãos, apenas enfiando o rosto no prato.<br />
Ela torceu o nariz, mas afora isso não pareceu incomodada.<br />
— Encurralaram outra menininha e a obrigaram a levantar a camisa e mostrar aos meninos.<br />
Porque era reta. Obrigaram a menina a dizer coisas sacanas enquanto fazia isso. Corre o boato<br />
de que pegaram uma velha amiga, uma garota chamada Ronna Deel, com quem tinham brigado,<br />
a levaram a uma festa, embriagaram e… meio que a deram de presente a alguns dos garotos<br />
mais velhos. Vigiaram do lado de fora do quarto até terminarem com ela.<br />
— Elas mal têm treze anos — reagi.<br />
Pensei no que tinha feito com essa idade. Pela primeira vez, me dei conta de como era<br />
ofensivamente jovem.<br />
— Essas são garotinhas precoces. Nós mesmas fizemos algumas coisas bem selvagens não<br />
muito mais velhas.<br />
A voz de Katie ficou mais rouca com a fumaça. Ela soprou e a viu pairar acima de nós,<br />
azul.<br />
— Nunca fizemos nada tão cruel.<br />
— Chegamos muito perto, Camille.<br />
Você chegou, eu não. Ficamos nos encarando, catalogando privadamente nossos jogos de<br />
poder.<br />
— Seja como for, Amma fodeu muito com a vida de Ann e Natalie. Foi legal sua mãe se<br />
interessar tanto por elas.<br />
— Sei que minha mãe foi tutora de Ann.<br />
— Ah, ela trabalhou com elas como mãe voluntária, as levava para casa, dava comida<br />
depois da escola. Algumas vezes até aparecia no recreio e você podia vê-la atrás da cerca,<br />
observando-as no parquinho.<br />
Uma imagem da minha mãe, dedos agarrando o arame da cerca, olhando para dentro,<br />
sequiosa. Uma imagem da minha mãe de branco, um branco ofuscante, segurando Natalie com<br />
um braço e levando um dedo à boca para calar James Capisi.<br />
— Terminamos? — perguntou Katie. — Estou meio cansada de falar de tudo isso.<br />
Ela desligou o gravador.<br />
— Então, ouvi falar de você e o policial bonitão.<br />
Katie sorriu. Um cacho de cabelo se soltou do rabo de cavalo, e lembrei dela, cabeça<br />
curvada sobre os pés, pintando as unhas e perguntando sobre mim e um dos jogadores de<br />
basquete que ela queria para si. Tentei não me encolher à menção de Richard.