04.09.2018 Views

Objetos cortantes - Gillian Flynn

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

melhores amigos — o meu era Phil, o dela era Jerry —, atletas que jogavam futebol americano<br />

no outono, lutavam no inverno e faziam festas o ano todo na sala de jogos do porão de Phil.<br />

Tive uma lembrança de nós duas dando as mãos para nos equilibrar enquanto mijávamos na<br />

neve do lado de fora, bêbadas demais para encarar a mãe dele no andar de cima. Lembro-me<br />

dela me contando sobre fazer sexo com Jerry na mesa de sinuca. O que explicava por que o<br />

feltro estava viscoso.<br />

— Oi, Kathy, bom ver você. Como estão as coisas?<br />

Ela estendeu os braços e olhou ao redor do restaurante.<br />

— Bem, você pode imaginar. Mas ei, é o que se ganha ficando aqui, certo? Bobby mandou<br />

um oi. Bobby Kidder.<br />

— Ah, certo! Deus… — exclamei. Eu esquecera que tinham se casado. — Como ele está?<br />

— O mesmo Bobby de sempre. Você deveria aparecer um dia desses. Se tiver tempo.<br />

Estamos na Fisher.<br />

Eu podia imaginar o relógio tiquetaqueando alto enquanto eu me sentava na sala de estar de<br />

Bobby e Kathy Kidder, tentando descobrir o que dizer. Kathy se encarregaria de falar, como<br />

sempre. Era o tipo de pessoa que preferiria ler placas de rua em voz alta a sofrer o silêncio.<br />

Se ainda fosse o mesmo velho Bobby, ele era silencioso mas afável, um cara com poucos<br />

interesses e olhos azul-acinzentados que só entravam em foco quando o assunto era caça. Na<br />

época do colégio, ele guardava os cascos de todos os cervos que matava e sempre tinha o<br />

último par no bolso e os tirava e batia com eles em qualquer superfície dura disponível.<br />

Sempre achei que fosse o código Morse do cervo morto, um pedido de socorro atrasado<br />

transmitido pelo almoço do dia seguinte.<br />

— Enfim, vão querer o bufê?<br />

Pedi uma cerveja, o que produziu uma pausa pesada. Kathy olhou por sobre o ombro para o<br />

relógio na parede.<br />

— Ahnnn, não devemos servir até as oito horas. Mas vou ver se consigo roubar uma para<br />

você; pelos velhos tempos, certo?<br />

— Bem, não quero causar problemas para você.<br />

Típico de Wind Gap ter regras arbitrárias para bebida. Cinco horas pelo menos faz sentido.<br />

Oito horas é apenas um jeito de fazer com que você se sinta culpado.<br />

— Por Deus, Camille, seria a coisa mais interessante a me acontecer em um bom tempo.<br />

Enquanto Kathy ia roubar uma bebida para mim, Richard e eu enchemos nossos pratos com<br />

peito de frango frito, cuscuz, purê de batata e, no caso de Richard, uma fatia trêmula de<br />

gelatina que estava derretendo em sua comida quando retornamos à mesa. Kathy discretamente<br />

deixara uma garrafa de cerveja no meu assento.<br />

— Sempre bebe assim tão cedo?<br />

— Estou só tomando uma cerveja.<br />

— Senti cheiro de destilado em seu hálito quando entrou, sob uma camada de balas… De<br />

hortelã?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!