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Gayla estava de pé à porta, um fantasma vigilante em nossa casa no alto da colina. Ela<br />
desapareceu em um átimo, e enquanto eu parava no pórtico de carros, a luz da sala de jantar se<br />
acendeu.<br />
Presunto. Senti o cheiro antes de chegar à porta. E mais couve, milho. Todos estavam<br />
sentados, imóveis como atores antes de a cortina se abrir. Cena: jantar. Minha mãe à cabeceira<br />
da mesa, Alan e Amma de cada lado, um lugar reservado para mim na ponta oposta. Gayla<br />
puxou a cadeira para mim, voltou rapidamente para a cozinha em seu traje de enfermeira. Eu<br />
estava farta de ver enfermeiras. Abaixo das tábuas corridas, a máquina de lavar roncava,<br />
como sempre.<br />
— Olá, querida, teve um bom dia? — disse minha mãe, alto demais. — Sente-se,<br />
estávamos esperando você para o jantar. Queríamos ter um jantar em família, já que logo vai<br />
partir.<br />
— Vou?<br />
— Eles estão prestes a prender seu amiguinho, querida. Não me diga que estou mais bem<br />
informada que uma repórter.<br />
Ela se virou para Alan e Amma e sorriu como uma anfitriã simpática servindo entradas.<br />
Tocou o sininho e Gayla trouxe o presunto, coberto de geleia, em uma travessa de prata. Uma<br />
fatia de abacaxi escorregou viscosamente pela lateral.<br />
— Você corta, Adora — disse Alan para minha mãe de sobrancelhas erguidas.<br />
Cachos de cabelos louros flutuavam enquanto ela cortava fatias grossas como dedos e<br />
colocava-as em nossos pratos. Acenei negativamente com a cabeça para Amma enquanto ela<br />
me oferecia uma porção, que depois deu a Alan.<br />
— Nada de presunto — murmurou minha mãe. — Ainda não superou essa fase, Camille?<br />
— A fase de não gostar de presunto? Não, ainda não.<br />
— Acha que John será executado? — perguntou-me Amma. — Seu John no corredor da<br />
morte?<br />
Minha mãe a trajara em um vestido leve branco com fitas rosa, arrumara seus cabelos em<br />
tranças apertadas dos dois lados. A raiva emanava dela como um fedor.<br />
— Missouri tem pena de morte, e certamente esses são o tipo de assassinato que pede a<br />
pena de morte, se é que alguém merece isso — respondi.<br />
— Ainda temos cadeira elétrica? — perguntou Amma.<br />
— Não — respondeu Alan. — Agora coma sua carne.<br />
— Injeção letal — murmurou minha mãe. — Como colocar um gato para dormir.<br />
Imaginei minha mãe presa a uma maca, trocando gentilezas com o médico antes de a agulha<br />
ser fincada. Adequado ela morrer por uma agulha envenenada.<br />
— Camille, se você pudesse ser qualquer personagem de conto de fadas, qual escolheria?<br />
— perguntou Amma.<br />
— Bela Adormecida.<br />
Passar a vida sonhando, isso soava adorável.